Ucranianos lembram 5 anos da revolução que derrubou Yanukovych
Nadjejda Vicente.
Kiev, 22 fev (EFE).- Os ucranianos lembram nesta sexta-feira os cinco anos da queda do presidente Viktor Yanukovych na revolução popular conhecida como Euromaidan, que coincide com a campanha para a próxima eleição presidencial, de resultado imprevisível.
"Depois do massacre que aconteceu nesta praça, nada é mais o mesmo. O espírito do Euromaidan nos transformou. A Ucrânia melhorou em muitos aspectos, mas ainda há muito por lutar", afirmou à Agência Efe Victoria Kish, de 32 anos.
O dia 22 de fevereiro de 2014 entrou para a história da Ucrânia como o dia do triunfo de uma revolução popular, mas também como o dia em que a Rússia começou uma operação para anexar a península da Crimeia e, segundo o governo em Kiev, promover uma revolta no leste do país. Naquele dia, barricadas e acampamentos ocupavam a Praça da Independência, na capital ucraniana, após protestos pacíficos que começaram em novembro de 2013 e que desembocaram em uma revolta sangrenta.
Milhares de pessoas se mantinham firmes em meio aos ataques das forças de segurança após semanas resistindo a temperaturas que chegavam a 20 graus Celsius negativos. O saldo foi de 100 civis e 13 policias mortos.
Restaurada e com um trânsito intenso, a praça hoje tem outra cara, mas os memoriais e as homenagens aos mortos não param.
"Os políticos prometeram muito, mas ninguém vai devolver a vida", lamentou uma senhora identificada como Olga, de 70 anos, que deixou flores ao lado de algumas placas de homenagens.
Há um mês, a Justiça ucraniana condenou Yanukovych a 13 anos de prisão por alta traição e cumplicidade na ação militar russa. O ex-presidente, que nega ter ordenado o uso da força para dispersar os manifestantes, argumentou que da mesma forma que a Rússia, o Euromaidan foi um claro golpe de Estado.
Os ucranianos não esquecem e não perdoam. Não esquecem as vítimas e não perdoam o fato de a corrupção continuar a ser o câncer que corrói as entranhas do Estado e da sociedade. De acordo com uma recente pesquisa, nove em cada dez ucranianos consideram que a corrupção é a maior ameaça para o país e querem que a classe política seja mais transparente.
A ONG Opora alertou sobre várias irregularidades financeiras e fraudes faltando pouco mais de um mês para o pleito presidencial, marcado para 31 de março.
"O que queremos é uma luta real contra a corrupção, não outra revolução. O que aconteceu não foi bom: perdemos vidas, perdemos a Crimeia e a situação econômica não melhorou. A única consequência positiva disso tudo foi a isenção de vistos entre a Ucrânia e a União Europeia (UE)", lamentou Sergei Kovtsun, de 26 anos, que perdeu um amigo que lutava no leste do país contra a invasão russa.
Os principais candidatos fizeram do combate à corrupção uma das prioridades de campanha, mas no caso do presidente, Petro Poroshenko, poucos acreditam que cumpra as promessas se for reeleito. O candidato que lidera as pesquisas, o comediante Vladimir Zelenski, não pensou duas vezes antes de colocar o dedo na ferida e apresentar um programa populista, e a ex-primeira-ministra, Yulia Tymoshenko, acusou Poroshenko de comprar votos e manipular o censo eleitoral.
Cansados da corrupção, os ucranianos podem quebrar todas as previsões e eleger Zelenski, embora analistas acreditem que isso só será decidido em segundo turno, no dia 21 de abril.
Poroshenko tentou melhorar nas pesquisas antecipando que pedirá a adesão à UE em 2023, que abriria caminho para acessar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Sobre isso, em discurso feito esta semana no Parlamento da Ucrância, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse ser inviável existir uma Europa justa sem uma Ucrânia independente.
"Não pode haver uma Europa segura sem uma Ucrânia segura. Em poucas palavras: não pode haver Europa sem Ucrânia," disse Tusk.
Em um dia como hoje, os ucranianos se livraram de Yanukovych, mas no mês seguinte perderam a Crimeia e em abril, nas regiões de Donetsk e Lugansk, viram acontecer uma revolta pró-Rússia que desembocou em um conflito militar ainda latente e que tirou a vida de mais de 10 mil pessoas, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). EFE
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