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Ex-agentes de Pinochet são condenados por desaparecimento de opositor em 1974

08/04/2019 17h51

Santiago (Chile), 8 abr (EFE).- A Justiça do Chile condenou nesta segunda-feira quatro ex-agentes da ditadura de Augusto Pinochet pelo sequestro qualificado em 1974 de um contador e dirigente regional do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), segundo informaram fontes judiciais.

Um tribunal de Santiago tomou a decisão de maneira unânime e ditou cinco anos e um dia de prisão para Orlando Manzo Durán, César Manríquez Bravo, Miguel Krassnoff Martchenko e Ciro Torré Sáez, na qualidade de autores do sequestro de Néstor Alfonso Gallardo Agüero, de 24 anos.

Os fatos ocorreram em 28 de setembro de 1974, um ano depois do começo da ditadura chilena (1973-1990), quando a vítima foi interceptada na via pública por civis armados do grupo "Halcón", que era dirigido então por Krassnoff, que soma mais de 600 anos de prisão entre as várias penas ditadas contra ele.

Durante a detenção de Gallardo, este foi atingido por um disparo e, apesar de estar ferido, foi levado a um centro de detenção da Direção de Inteligência Nacional (DINA), a polícia secreta de Pinochet, onde Torré exercia o papel de chefe do quartel, segundo explicou o juiz Mario Carroza na decisão.

"Os detidos eram submetidos a torturas de diversos tipos com o claro propósito de obter informações relevantes sobre sua organização e participação de outros integrantes, buscando com isso prevenir e desarticular qualquer oposição ao governo de fato sob uma política de medo", afirmou Carroza.

Durante esse tempo, a vítima ficava presa no centro de detenção Cuatro Álamos, no sul da capital chilena, dirigido então por Manzo Durán, onde Gallardo foi visto pela última vez, segundo confirmaram pessoas que também estiveram presas nesse lugar e que o reconheceram.

Um ano depois, no entanto, seu nome apareceu entre as vítimas da Operação Colombo, o conhecido plano da ditadura para encobrir o desaparecimento de 119 prisioneiros políticos, que incluiu até edições únicas de dois jornais apócrifos da Argentina e do Brasil, publicados com a ajuda dos serviços de segurança desses países.

Segundo essas publicações, os 119 correspondiam a membros do MIR, grupo que combateu contra Pinochet, supostamente mortos em disputas internas desse agrupamento.

A imprensa chilena, controlada pelo regime de fato, publicou tais fatos com manchetes como "Exterminados como ratos".

No aspecto civil, a decisão condenou o Fisco a pagar uma indenização de 40 milhões de pesos (pouco mais de US$ 60 mil) a uma irmã da vítima.

No Chile, durante a ditadura de Pinochet, segundo números oficiais, cerca de 3,2 mil opositores morreram pelas mãos de agentes do Estado, dos quais 1.192 figuram ainda como detidos desaparecidos, enquanto outros 40 mil foram torturados e presos. EFE