Japão quer voltar à ordem tradicional dos nomes: Abe Shinzo, não Shinzo Abe
Nora Olivé.
Tóquio, 24 jun (EFE).- Após mais de um século de adaptação às convenções internacionais, o Japão quer que o resto do mundo chame os japoneses pelo seu sobrenome primeiro, de acordo com uma tradição da língua japonesa, o que transformaria, por exemplo, o primeiro-ministro Shinzo Abe em Abe Shinzo.
"Planejo pedir às organizações internacionais que façam isto. Os meios de comunicação nacionais que têm serviços em inglês também deveriam considerar", disse recentemente em entrevista coletiva o ministro das Relações Exteriores, Taro Kono.
É costume em japonês que o sobrenome apareça antes do nome de batismo, um hábito do qual se abre mão quando os nomes japoneses são romanizados, ou seja, representados no alfabeto latino.
Foi na era Meiji (1868-1912), um período marcado pela abertura do país ao resto do mundo, que o Japão começou a se adaptar às convenções americanas e europeias, e permitiu que o nome precedesse o sobrenome.
Não foi assim em Coreia, China e Vietnã, países com a mesma tradição onde esta regra ainda é aplicada tanto no idioma próprio do país como nas línguas estrangeiras.
Enquanto isso, o resto do mundo se refere ao primeiro-ministro japonês como Shinzo Abe, a tradição se mantém com os presidentes da Coreia do Sul, Moon Jae-In; da China, Xi Jinping; e do Vietnã, Nguyen Phu Trong, todos com o sobrenome antes do nome.
A mudança sugerida por Kono aos meios de comunicação internacionais para que começassem a aplicar este costume aos nomes japoneses implicaria não apenas em cargos políticos e pessoas famosas, mas também aos demais japoneses.
Nem todos são partidários desta ideia, já que o estilo ocidental ainda prevalece entre a imprensa estrangeira e nas companhias internacionais.
"Embora não tenhamos uma política concreta a respeito, minha empresa segue a ordem que é utilizada pelo resto do mundo para maior comodidade", disse à Agência Efe, Takumi Nakano, funcionário do departamento internacional de uma companhia dedicada à segurança cibernética.
Quando está em contato com seus clientes internacionais, Nakano explica que se referem a ele "habitualmente pelo nome de batismo", e que ele nunca se apresenta com o sobrenome na frente para evitar possíveis confusões.
De fato, é comum que alguns veículos de imprensa do exterior se equivoquem ao chamar os líderes asiáticos pelo seu sobrenome, se referindo ao presidente chinês como "senhor Jinping" no lugar do correto "senhor Xi", por exemplo.
A Agência de Assuntos Culturais do Japão publicou um relatório no ano 2000 no qual aconselhava a retomada desta tradição japonesa para informar e proteger as "diversidades da língua".
Em seu pronunciamento aos jornalistas, Kono citou este mesmo relatório e considerou o momento atual como o ideal para começar a colocar a ideia em prática, em vista dos grandes eventos internacionais que o país receberá em breve, entre eles os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.
O próprio ministro se apresenta como Kono Taro no seu cartão de visitas e em outros documentos em inglês, embora reconheça que não seja uma batalha que possa vencer sozinho.
Para promover a iniciativa, a Agência de Assuntos Culturais anunciou que pedirá que a administração pública, as agências de notícias, os meios de comunicação e outras organizações utilizem o sobrenome primeiro para os nomes japoneses romanizados.
No entanto, às vésperas de eventos como a Cúpula do G20 e a Copa do Mundo de rugby, as organizações estrangeiras ainda esperam indicações do governo a respeito da polêmica mudança e o gabinete do primeiro-ministro continua se referindo a ele como Shinzo Abe.
Não é a primeira vez que este debate tem a atenção do governo japonês: os livros de texto de inglês nas escolas mudaram a ordem tradicional em 2002, algo que foi aplicado também nos passaportes de cidadãos japoneses.
Alguns políticos do Ministério da Educação e Cultura alteraram recentemente a ordem dos seus nomes no site do órgão para refletir seu apoio a esta iniciativa.
No entanto, por mais que Kono e os ministérios encorajem a mudança, "não têm poder para forçar uma alteração, razão pela qual não se pode prever uma mudança total em nível nacional", segundo destacou o jornal "Mainichi" em um editorial. EFE
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