Topo

Fernando de la Rúa, o presidente que protagonizou a pior crise da Argentina

09/07/2019 10h39

Natalia Kidd.

Buenos Aires, 9 jul (EFE).- O ex-presidente da Argentina, Fernando de la Rúa (1999-2001), que morreu nesta terça-feira em Buenos Aires aos 81 anos, um político moderado e com fama de "chato", foi protagonista da pior crise política, econômica e social já ocorrida no país.

Sua imagem abandonando a Casa Rosada de helicóptero em 20 de dezembro de 2001, enquanto nas ruas aumentava a repressão contra os protestos sociais que deixaram 38 mortos em todo o país, representou a morte política para De la Rúa, que apenas dois anos antes tinha chegado ao governo com a esperança de mudança.

Nascido em 15 de setembro de 1937 na província de Córdoba, advogado de profissão, De la Rúa militou na União Cívica Radical (UCR), partido do qual chegou a ser presidente entre 1997 e 1999 e pelo qual foi senador por três mandatos e uma vez deputado.

Em setembro de 1973, foi candidato à vice-presidência do país na campanha de Ricardo Balbín, que tinha vencido Raúl Alfonsín nas eleições internas da UCR, mas foi derrotado nos pleitos gerais pela chapa formada por Juan Domingo Perón e Estela Martínez.

Em 1996, se tornou o primeiro prefeito da cidade de Buenos Aires eleito pelo voto popular, após uma reforma constitucional que declarou a autonomia da capital.

Sua trajetória e o cargo de prefeito o levaram a concorrer nas eleições presidenciais como candidato da Aliança, coalizão formada pela UCR e pela Frente País Solidário (Frepaso), de perfil progressista.

"Dizem que sou chato", comentava o candidato em uma popular propaganda eleitoral, na qual prometia "acabar com a festa de alguns poucos" e usava a seu favor a fama que ganhou de seus opositores.

Fernando de la Rúa venceu as eleições com 48,5% dos votos e assumiu a presidência para um mandato de quatro anos em 10 de dezembro de 1999 como sucessor do peronista Carlos Menem (1989-1999), após uma campanha eleitoral baseada em promessas de lutar contra a corrupção e melhorar a economia.

No entanto, seu governo enfrentou uma série de dificuldades políticas e econômicas, marcado por medidas impopulares e escândalos de corrupção, como o pagamento de propinas no Senado, um caso que levou o então vice-presidente Carlos Álvarez, do Frepaso, a renunciar.

O agravamento da situação econômica, a inutilidade dos resgates financeiros internacionais e fortes medidas de ajuste que atingiram as classes média e baixa desencadearam violentos protestos no final de 2001, com índices de pobreza e desemprego recordes, cidadãos nas ruas aos gritos de "Que saiam todos" e ataques e saques a comércios e bancos.

"Espero que minha renúncia contribua para a paz social e garanta a continuidade institucional do país", escreveu De la Rúa em sua carta de renùncia.

Dez anos depois, em entrevista concedida à Agência Efe, o ex-presidente, já totalmente afastado da política, disse que teve que governar em um "tempo muito difícil" e que o fim antecipado do seu mandato foi fruto de uma "conspiração" montada pelo peronismo opositor, que deu "o primeiro golpe de Estado civil da história".

"Jamais o governo dispôs de repressão e os incidentes violentos foram o maior arrependimento que tenho em meu espírito. A repressão de modo algum se deveu a uma ordem do presidente", afirmou na ocasião.

De la Rúa foi processado pelas mortes ocorridas durante a violenta repressão, mas depois o caso foi encerrado, uma decisão que a Corte Suprema ratificou definitivamente em 2015.

Em 2013, foi absolvido em um julgamento pelo caso das propinas no Senado, enquanto em 2007 um tribunal de apelação revogou a acusação contra o ex-presidente pelos supostos prejuízos para o Estado de uma milionária troca de títulos públicos realizada em 2001, poucos meses antes da explosão da crise.

"Assumo os meus erros e peço desculpas", disse à Efe De la Rúa em 2011, afirmando então que "o povo se deu conta da boa fé" com a qual atuou. EFE