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México lembra vítimas de terremotos de 1985 e 2017 com megasimulação

19/09/2019 17h44

Eduard Ribas i Admetlla.

Cidade do México, 19 set (EFE).- O México realizou nesta quinta-feira uma megasimulação contra terremotos, evento aproveitado pelo governo federal para homenagear as vítimas dos tremores de 1985 e 2017, duas das maiores tragédias da história do país.

Às 10h no horário local (12h em Brasília), os alto-falantes da Cidade do México emitiram um sinal de alerta sísmico, som que para parte da população traz o terror vivido durante os momentos em que os dois terremotos atingiram e destruíram várias áreas do país.

Desta vez, os moradores da capital mexicana precisavam apenas evacuar os prédios públicos. No movimentado cruzamento entre o Passeio da Reforma e a Avenida Juaréz, duas das principais vias da cidade, centenas de pessoas se amontoaram enquanto eram orientadas por funcionários do Departamento de Proteção Civil a se dirigirem para áreas seguras.

O trânsito na área foi desviado. Um helicóptero acompanhava a situação pelo ar e médicos simularam práticas de reanimação de feridos.

Mas as marcas das tragédias seguem bastante vivas na memória dos habitantes da Cidade do México. Hoje, muitos deles ainda falavam com detalhes do terremoto de magnitude 7,1 gruas na escala Richter que atingiu a cidade e os estados de Morelos, Puebla, Guerrero, Oaxaca e Chiapas há dois anos, matando 369 pessoas, 228 delas na capital.

Tremor que chegou 12 dias depois do sismo de magnitude 8,2 graus, que deixou 98 vítimas em Oaxaca, Chiapas e Tabasco.

Na simulação de hoje, Raimundo Barajas ficou responsável por verificar que os protocolos de segurança fossem cumpridos em um imóvel que pertence há Secretaria de Fazenda do México, local onde cerca de 2,3 mil pessoas trabalham.

"Há dois anos estivemos neste edifício e, de verdade, pensei que ele ia cair. O terremoto durou bastante e o prédio começou a fazer muito barulho. Felizmente ainda estamos aqui para contar isso", disse Barajas em entrevista à Agência Efe.

Já Marcela Martínez, que participou da simulação no prédio onde Baraja atuava, disse que sentiu "muito pânico" quando ouviu o alerta emitido pelas sirenes da capital.

"Essa lembrança é constante", afirmou.

Apesar do sucesso da simulação em alguns dos principais pontos da capital, centenas de moradores da Cidade do México denunciaram nas redes sociais que os alertas não tocaram em várias áreas da cidade.

Segundo dados do governo da Cidade do México, 494 dos 12.354 alto-falantes falharam hoje. Os problemas foram detectados e serão corrigidos em breve.

No entanto, o drama não terminou para parte das pessoas afetadas pelo terremoto de 2017. A nova prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, que tomou posse em dezembro do ano passado, prometeu que todos os que ficaram desabrigados pelo tremor retornarão às suas casas até 2021.

Muito crítica à administração de seu antecessor, Sheinbaum disse hoje que, dos 11.970 imóveis afetados pelo tremor, 430 já foram entregues aos seus donos. Outros 1.750 estão sendo reformados e 8.872 começarão a ser construídos ainda neste mês.

Os que ainda estão fora de suas casas, porém, vivem em condições precárias. É o caso de Petra Puebla, de 50 anos, que há dois anos vive em um casebre de madeira próximo às obras do prédio onde morava antes do terremoto. O edifício desabou, matando nove pessoas.

Em teoria, ela ganhará um novo imóvel em 7 de janeiro de 2020. A espera, porém, foi muito dura. E reviver os dias de terror em simulados como o de hoje só pioram a situação.

"Agora que soou o alarme senti na minha pele. Fiquei arrepiada de ouvir esse som tão alarmante. Espero que um terremoto não volte a ocorrer", disse ela.

Já Alícia Guzmán, que perdeu a filha no tremor de 2017, disse que é cada dia mais terrível viver com as memórias da tragédia.

"O governo não fez nada por nós", afirmou.

34 ANOS DO TERREMOTO DE 1985

Uma ironia do destino quis que o terremoto de 2017 ocorresse no mesmo dia que o de 1985, o mais destrutivo da história da capital mexicana. Às 7h19 daquele 19 de setembro, um tremor de magnitude 8,1 graus derrubou múltiplos prédios na capital e matou milhares de pessoas.

Até hoje, os números de mortos variam. Alguns afirmam que foram 10 mil vítimas. Outros elevam para 40 mil. Calcula-se que 30% dos prédios do centro urbano da Cidade do México foram destruídos pelo terremoto.

No exato momento em que o tremor sacudiu a Cidade do México há 34 anos, o presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, saiu do Palácio Nacional para acompanhar o hasteamento da bandeira mexicana a meio mastro. EFE