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Exército toma controle de Mianmar após prender líder e Nobel da Paz, Suu Kyi

01/02/2021 15h09

Rangun (Mianmar), 1 fev (EFE).- O Exército de Mianmar declarou estado de emergência nesta segunda-feira e assumiu o controle político do país por um ano depois de prender vários membros do governo, incluindo a líder do país e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi.

Até agora o vice-presidente, Myint Swe, que foi nomeado para o cargo pelos militares graças ao poder que lhes é reservado pela atual Constituição, assumiu a presidência interina e deu todos os poderes ao chefe das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, informou a emissora "Myawaddy News", pertencente aos militares.

MILITARES ALEGAM FRAUDE NAS ELEIÇÕES DE NOVEMBRO

Os militares justificaram o golpe com uma suposta fraude nas eleições de novembro do ano passado e alegaram que a Comissão Eleitoral foi "incapaz de resolver o problema".

A tomada do poder pelos militares ocorreu poucas horas após a prisão da líder de fato do país, Conselheira de Estado e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, e do até então presidente de Mianmar, Win Myint, além de vários ministros e líderes do partido governamental Liga Nacional para a Democracia (LND).

Entre os cerca de 30 detidos também estão ativistas, escritores e artistas, de acordo com uma lista não oficial que a Agência Efe teve acesso.

O Parlamento de Mianmar estava programado para realizar a primeira sessão da legislatura nesta segunda após as eleições do ano passado, nas quais o LND, partido de Suu Kyi, conseguiu revalidar o poder com uma vitória esmagadora.

PARTIDO PEDE QUE POPULAÇÃO PROTESTE

Em uma declaração postada em um perfil verificado no Facebook do LND, o partido pediu aos cidadãos em nome de Suu Kyi que não aceitassem o golpe de Estado perpetrado pelos militares hoje e protestassem.

"As ações dos militares levam o país de volta à ditadura", afirma a declaração.

As linhas telefônicas e de comunicação foram cortadas no início da manhã em todo o país, enquanto apenas algumas linhas de internet permanecem operacionais.

O único meio de comunicação que está sendo transmitido é o canal militar.

A Associação de Bancos de Mianmar anunciou em comunicado o fechamento dos bancos devido à "instabilidade do sistema e lentidão na ligação à Internet" de hoje até novo aviso, embora alguns bancos pertencentes ao Exército continuem operando.

Durante a manhã, longas filas foram vistas em Rangun, a maior cidade do país, em caixas eletrônicos de bancos, que em alguns casos ficaram sem dinheiro.

Mianmar também fechará seu espaço aéreo de hoje até 31 de maio, de acordo com um comunicado enviado às companhias aéreas a que fontes diplomáticas tiveram acesso.

Depois de tomar conhecimento das detenções, o governo dos Estados Unidos disse estar "alarmado" com os acontecimentos em Mianmar e apelou aos militares para libertarem os políticos detidos, aderindo aos princípios democráticos.

O Japão, por sua vez, pediu a Mianmar que resolvesse pacificamente os conflitos internos no país após o golpe militar, e a Índia defendeu "a transição democrática" iniciada no país em 2011, após quase meio século de ditadura do Exército.

EXÉRCITO GOVERNOU PAÍS POR 49 ANOS

Os rumores de um golpe de estado se intensificaram desde a última terça-feira, quando o porta-voz militar, Zaw Min Tun, se recusou a descartar a tomada do poder pelo Exército após denunciar supostas irregularidades nas eleições legislativas de 8 de novembro.

O poderoso Exército de Mianmar, que governou o país entre 1962 e 2011, quando começou uma transição controlada para a democracia, finalmente rejeitou essa possibilidade no último sábado e garantiu em um comunicado seu compromisso com a defesa da Constituição.

A vitória eleitoral esmagadora de Suu Kyi provou sua grande popularidade no país, apesar de sua má reputação internacional por políticas contra a minoria Rohingya, à qual é negada a cidadania e o voto, entre outros direitos.

As supostas irregularidades nas últimas eleições foram denunciadas pela primeira vez pelo Partido da Solidariedade e Desenvolvimento da União (USDP), criado pela junta militar anterior antes de se dissolver.

A Comissão Eleitoral negou fraude eleitoral nas eleições de novembro, vencidas por uma maioria esmagadora pela LND, que conquistou 83% das 476 cadeiras no Legislativo.

O USDP foi o grande perdedor das eleições, conquistando apenas 33 cadeiras, e se recusou a aceitar os resultados, chegando mesmo a convocar a realização de novas eleições organizadas pelo Exército.

Os militares, que redigiram a atual Constituição em um roteiro para uma "democracia disciplinada", já detinham grandes poderes no país, com 25% das cadeiras do Parlamento e os influentes ministérios do Interior, Fronteiras e Defesa.