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Fuga de violência e pobreza faz Américas viverem grave crise migratória

03/06/2022 23h24

Cidade do Panamá/Washington/Porto Príncipe, 3 jun (EFE).- As Américas estão passando por uma de suas maiores crises migratórias, com centenas de milhares de pessoas tentando chegar aos Estados Unidos em busca de um sonho cada vez mais difícil de se concretizar devido às constantes deportações e aos perigos nas fronteiras, o que fez da migração irregular um dos principais temas a serem discutidos na Cúpula das Américas, que será realizada na próxima semana em Los Angeles (EUA).

Um dos principais focos da crise migratória está no Haiti, onde a violência das gangues, a fome, a crise política e a destruição causada pelo terremoto de 2021 estão levando a população a um acelerado processo migratório. O coordenador da Mesa Redonda Nacional de Migração e Refugiados na vizinha República Dominicana, William Charpentier, disse à Agência Efe que "os cidadãos haitianos estão desesperados e têm que fugir de seu país para melhorar suas condições de vida, mas também para salvar suas vidas".

A Guarda Costeira dos Estados Unidos capturou 3.900 haitianos até agora neste ano, mais do que o dobro do número do ano passado, e já contabilizou 175 mortos ou desaparecidos no mar.

Já a Marinha dominicana interceptou 1.747 haitianos somente nos últimos seis meses, além de 2.201 dominicanos em busca de melhores condições de vida que tentaram viajar ilegalmente para Porto Rico através das traiçoeiras correntes do Canal de Mona.

ROTA PERIGOSA NA AMÉRICA CENTRAL.

A região de selva de Darién, fronteira natural entre Colômbia e Panamá, é a porta de entrada para a América Central e considerada uma das trilhas mais perigosas do mundo devido ao clima, aos insetos e à presença de grupos armados. De janeiro a abril, 19 mil migrantes irregulares atravessaram a fronteira. No ano passado foram mais de 133 mil, um número histórico semelhante ao registrado em toda a década anterior, de acordo com o governo panamenho.

Esta onda migratória se soma às caravanas procedentes do Triângulo Norte da América Central, compostas por cidadãos de El Salvador, Honduras e Guatemala, que estão fugindo do agravamento da pobreza, da violência das gangues e do tráfico de drogas para buscar uma vida melhor nos EUA e no Canadá.

Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), as deportações dos EUA aumentaram 583,8% no final do primeiro trimestre de 2022. A situação forçou as autoridades de 20 países do continente a criar um grupo de trabalho para enfrentar os crescentes fluxos migratórios nas Américas, após a realização de uma reunião regional sobre migração e segurança em abril, no Panamá.

MILITARIZAÇÃO X LIVRE TRÂNSITO NO MÉXICO

O México registrou um fluxo migratório recorde rumo aos EUA: o país latino-americano deportou mais de 114 mil estrangeiros em 2021, segundo dados da Unidade de Política Migratória do Ministério do Interior. A Suprema Corte de Justiça declarou inconstitucionais os controles de imigração que violam o livre trânsito e reconheceu a reforma imigratória de 2020, que proíbe o Instituto Nacional de Migração de deter menores em postos de controle migratório.

Em 2019 havia 8.715 membros das Forças Armadas em tarefas migratórias nas fronteiras, mas o número mais do que triplicou até abril de 2022, passando de 28.500, de acordo com o relatório "Sob o coturno", da Fundação para a Justiça e o Estado Democrático de Direito (FJEDD).

A continuidade da aplicação do Título 42, regra usada pelos EUA para expulsar expressamente os migrantes irregulares durante a pandemia de covid-19, tirou as esperanças de milhares de migrantes que estavam esperando que a medida deixasse de ser aplicada em 23 de maio.

EUA E AS DEPORTAÇÕES EXPRESSAS.

Os esforços do governo do presidente Joe Biden para reverter a controversa política de imigração aplicada por seu antecessor, Donald Trump, naufragou nos tribunais. Biden eliminou em seu primeiro dia o Protocolo de Proteção ao Migrante (MPP), conhecido como "Permanecer no México", que desde 2019 força os solicitantes de asilo a esperar o processo em território mexicano, em condições precárias e expostos à violência durante meses. Mas os tribunais americanos forçaram Biden a reativar este programa, amplamente criticado pelos defensores dos direitos humanos e implementado com o apoio do governo mexicano.

Outro esforço do governo Biden para desmantelar uma política de Trump fracassou em 20 de maio, quando um juiz do estado da Louisiana ordenou que o Título 42 permanecesse em vigor, dando razão aos estados governados por republicanos que alegaram um aumento previsível dos atendimentos em postos de fronteira e das expectativas em seu sistema de saúde.

"O Título 42 é um fracasso como política de gestão de fronteiras (...) Gerou mais caos e mais postos de fronteira", disse Aaron Reichlin-Melnick, especialista em migração do Conselho Americano de Imigração.

As tentativas de Biden de acabar com estas medidas não equivalem a uma política de portas abertas, já que a mensagem do governo para os migrantes é: "não venha". EFE