Quem vai dar o prêmio a Leila Pereira, a melhor presidente do Brasileirão?
Ricardo Kotscho
Colaboração para o UOL, em São Paulo
07/12/2023 12h30Atualizada em 08/12/2023 16h27
Não a conheço, nunca a vi de perto, não sabia nada sobre a sua vida antes do Palmeiras, mas acho que estão cometendo uma grande injustiça com essa mulher.
Nesta época de fim de ano, em que estão distribuindo prêmios a granel para os melhores do Brasileirão —jogadores, revelações, técnicos, torcidas e até juízes— me chamou a atenção a ausência do nome da presidente do Palmeiras, que conquistou o bicampeonato do Brasileirão na noite de quarta-feira.
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Leila Mejdalani Pereira, 59, empresária, advogada, jornalista e dirigente esportiva, nascida em Cambuci, no Rio de Janeiro, onde conheceu o marido, José Roberto Lamacchia, numa festa de Carnaval, quando estudava jornalismo e tinha 18 anos; ele, com 38, já era um grande player do mercado financeiro. Estão casados há 40 anos.
A história da Sociedade Esportiva Palmeiras, que ela transformou na maior potência do futebol brasileiro, terá que ser contada no futuro em antes e depois de L.P.. Além do patrocínio anual, hoje em torno de R$ 100 milhões, muito mais do que qualquer SAF da vida, o casal também ajudou a comprar vários jogadores para montar um plantel de respeito, bancado pelas duas maiores das 14 empresas do conglomerado, o Banco Crefisa e a FAM (Faculdade das Américas), que ornam suas camisas.
Esse casamento entre Beto, como ela chama o marido, Leila e o Palmeiras começou quando ele voltou de um tratamento de câncer nos Estados Unidos, e os dois estavam conversando sobre a vida à beira da piscina do clube.
"Se você gosta tanto do Palmeiras, por que não faz alguma coisa pelo clube?", perguntou-lhe Leila. Ele, que era conselheiro do Palmeiras, gostou da ideia, mas nenhum dos dois podia imaginar que ela, depois de assumir o comando da Crefisa em 2008, viria a se tornar a poderosa Leila Pereira, caso raro de mulher na presidência de um grande clube, num ambiente ainda predominantemente machista, misógino, homofóbico.
Na gestão de Leila, o Palmeiras ganhou seis títulos. As conquistas ajudaram o clube a abater a dívida com a Crefisa, que era de R$ 172 milhões, em 2019, e agora é de R$ 27,7 milhões, depois do bônus de R$ 10 milhões pago pelo banco pela conquista do Brasileirão de 2023. Leila quer zerar essa conta até o final do ano que vem, quando termina seu mandato.
Hoje, Leila entende tanto de futebol como de finanças e, assim, como diz o caipira, "o negócio foi bom para os dois lados".
O clube e o banco cresceram juntos, e Lamacchia nunca se arrependeu de ter investido no futebol. "Antes do Palmeiras, quem conhecia a Crefisa?", pergunta ele, para justificar o dinheiro investido, com seu jeito simples de homem do interior paulista, que vendeu o banco herdado do pai e construiu um império empresarial. Quando o conheci, na época em que a gente frequentava o mesmo bar, a Tabacaria Ranieri, ele não falava de negócios nem de futebol. Era apenas um bom papo, que se divertia com as conversas dos outros.
Numa época em que vários clubes estão aderindo ao SAF (Sociedade Anônima do Futebol), como o Botafogo, o Bahia, o Cruzeiro e o Vasco, que ainda não deu muito certo em nenhum deles, o empreendimento particular de Pereira&Lamacchia tornou-se um oásis de profissionalismo no futebol brasileiro, que ainda sobrevive no amadorismo dos seus dirigentes que só sabem de trocar de técnico quando o time vai mal.
A longevidade de Abel Ferreira no cargo é uma das razões do sucesso do clube alviverde, mas há outro tão importante quanto: o investimento nas equipes de base do clube, que muito contribuíram nesta reta final do Brasileirão para a virada até o título, em que poucos ainda acreditavam depois da eliminação da Libertadores. Não por acaso, nos últimos anos, o Palmeiras vem ganhando quase todos os títulos em todas as categorias.
Entre os meninos quer subiram para o time de cima, está o endiabrado Endrick, uma força da natureza aos 17 anos, lapidada com carinho por Leila e Abel, que já foi vendido para o Real Madrid, para onde vai no ano que vem, quando completará 18.
Pelo que se comenta agora no Allianz Parque e no mercado da bola, Abel Ferreira também poderá ir embora para se tornar o técnico mais bem pago do mundo no futebol árabe. Mas o Palmeiras ainda será uma potência nos próximos anos, mesmo sem eles, porque a base plantada por Leila é sólida, com uma visão de longo prazo.
Em tempo: não sou palmeirense, mas tenho que tirar o chapéu para essa mulher e lhe dou aqui o prêmio de melhor presidente de clube em 2023, como já foi também nos dois anos anteriores.
Vida que segue.