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PT chega aos 44 envelhecido e ainda dependente de Lula

Para quem viu o PT nascer, em 1980, no bojo das greves operárias do final dos anos 70 e da resistência à ditadura militar, as imagens da festa de comemoração do aniversário, esta semana, mostraram também o envelhecimento dos principais dirigentes no palco - Lula, aos 78, ainda à frente, como nas suas origens.

A questão não é só de faixa etária, semelhante à minha, que na época era um jovem repórter da Folha, encarregado de cobrir movimento popular e sindical. Envelheceram também os discursos, as bandeiras e os projetos do partido, num mundo em profunda transformação, com o advento das redes sociais e o fortalecimento da extrema-direita, aqui e lá fora.

Talvez isso esteja na raiz dos problemas que o governo Lula 3 vem enfrentando, com constante queda nas pesquisas desde o início do segundo ano. Passaram-se, afinal, 22 anos desde a primeira posse de Lula no Palácio do Planalto, quando o PT, um partido construído de baixo para cima, era ainda uma grande novidade na cena política mundial.

De lá para cá, houve pouca renovação de lideranças com expressão nacional, ofuscadas pelo protagonismo de Lula, fundador e primeiro presidente do partido, que até hoje depende da sua liderança.

A rigor, o único nome competitivo que surgiu no partido neste período para a sucessão de Lula, se o tri-presidente não for candidato de novo em 2026, é o do ministro da Fazenda Haddad, que já substituiu o líder inconteste na eleição presidencial de 2018, quando foi preso pela Lava Jato e impedido de concorrer.

Mas Haddad foi o grande ausente na festa petista, alegando compromissos de trabalho naquela noite. Pode ter sido também por problemas de relacionamento com a atual direção partidária, que contesta a sua política econômica.

O fato é que, depois de Lula, e na ausência de Haddad, o mais festejado nas comemorações foi José Dirceu, o velho guerreiro, representado no palco por seu filho, o deputado federal Zeca Dirceu, da ala jovem do partido, também ele já de cabelos grisalhos.

Não sei por quê, me lembrei do Francisco Petrônio (falecido em 2007, aos 83 anos), "a voz de veludo do Brasil", que animava o "Baile da Saudade" nos clubes de São Paulo na década de 50 e, depois, em várias emissoras da televisão, a começar pela Globo/SP, que ainda se chamava TV Paulista, em 1966.

Até o jingle mais tocado no salão de festas do PT foi "Sem Medo de Ser feliz", do Hilton Accioly, com o refrão "Olê, Olê, Olá, Lulalá", que acompanha Lula desde a primeira eleição presidencial , em 1989.

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Acho que estou ficando meio nostálgico, mas Lula também está, ao reviver os sucessos do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida dos seus primeiros governos.

Ainda falta um novo projeto para o atual governo, uma marca com apelo popular. Isso explica a ansiedade de Lula nas reuniões com ministros, cobrando deles o que não podem entregar, porque a equipe já não tem a mesma qualidade daquela que ele formou em 2003, depois de longos anos de gestação no Instituto Cidadania. No Congresso Nacional mais reacionário da história recente, já não encontra a oposição fraterna do PSDB, mas o centrão de Arthur Lira e os pit-bulls do bolsonarismo, com sua pauta de "costumes" do começo do século passado.

Ficou tudo mais difícil para Lula, em sua relação conflituosa com o Legislativo, em meio a uma epidemia de dengue e à crise climática que provocou uma alta no preço dos alimentos, sem falar nas polêmicas que arranjou ao falar das guerras de Israel, em Gaza, e da Rússia, na Ucrânia, das "eleições" na Venezuela e até com os móveis que sumiram e reapareceram misteriosamente no Palácio da Alvorada. Talvez seja esse o momento mais difícil enfrentado em seus três governos, com várias frentes de batalha abertas ao mesmo tempo.

Por uma feliz coincidência, apesar de tudo, o governo Lula 3 ainda mantem 35% de aprovação com ótimo/bom no Datafolha desta semana, exatamente os mesmos 35% do índice de simpatizantes do PT apontado pelo instituto, na mais recente pesquisa sobre partidos, em 29 de outubro de 2022, na véspera da eleição.

Essas duas pesquisas mostram que os petistas continuam religiosamente fiéis, mas Lula ainda não conseguiu avançar sobre o outro lado (na mesma pesquisa, o PL de Bolsonaro tinha 20% de simpatizantes). Como 30% consideram o atual governo regular, é neste contingente que Lula precisaria mirar para recuperar os pontos perdidos. Deixar de falar em Bolsonaro e de dar munição aos adversários já ajudaria bastante.

Uma pergunta que ainda não vi listada nas pesquisas é bem simples: você hoje, no governo Lula, vive melhor ou pior do que no governo Bolsonaro? É isto que será colocado na balança do eleitor em 2026. Fica a sugestão.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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