Ronilso Pacheco

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Opinião

Protestos nas universidades dos EUA desafiam Israel e a direita

Não são de hoje os protestos e manifestações pró-Palestina em campus universitários nos Estados Unidos.

Eles são quase sempre precedidos de alguma ação militar israelense na Faixa de Gaza, na Palestina, que acontecem como resposta a algum ataque ou ofensiva sofrido por Israel por parte de seus inimigos políticos, como Hamas.

Por parte dos protestos que tomam os campus americanos, elas invariavelmente enfatizam quando a resposta de Israel — além do projeto expansionista da direita israelense sobre a Palestina — vitimam tantos civis, incluindo crianças, de forma dolorosamente desproporcional a qualquer ataque que Israel tenha sofrido.

Os levantes atuais começaram após o maior ataque do Hamas em território israelense, em 7 de outubro de 2023, com o maior número de mortos e sequestrados da história de Israel desde o holocausto. Muito desse cruel ataque, tendo sido filmado, circulou globalmente.

Nos Estados Unidos, quase imediatamente e ainda sob o impacto e o terror causado por este ataque, estudantes nas universidades de Harvard, Indiana, Arizona, Califórnia e Carolina do Norte foram os primeiros a ocuparem seus campus.

Ocuparam os campus com protestos, e as redes sociais com declarações e notas que, sim, condenavam o cruel ataque do Hamas, mas também a resposta de Israel movida pelo desejo de vingança e expansionismo de Netanyahu.

À medida que movimentos pró-Palestina cresciam e ganhavam proporção dentro das universidades, cresciam também os movimentos de repressão dentro das próprias universidades. Os protestos foram se multiplicando, e a ocupação no campus da Columbia aconteceu.

Por que, diferente de todas as outras vezes, estes levantes ganharam dimensão nacional nos Estados Unidos e começam a ganhar agora uma dimensão global?

Aqui vão alguns fatores a considerar:

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Primeiro, os movimentos sionistas ultraconservadores. Tais grupos viram na crueldade da ação do Hamas o timing perfeito para defender incondicionalmente o "direito de Israel de reagir". Inicia-se então uma pressão para associar qualquer defesa do direito palestino à terra a uma "condescendência" com terroristas que desejam matar judeus, e, por isso, condescendência com o antissemitismo.

Essa pressão se voltou não apenas contra estudantes e departamentos, mas também contra presidentes de universidades. Aqui, o caso mais emblemático foi a queda de Claudine Gay, presidente da poderosa Harvard.

Por um lado, sua posição diante dos movimentos pró-Palestina foi acusada por conservadores como sendo de suposta timidez em criticar o Hamas. Isso pavimentou o caminho que a forçou a renunciar em janeiro deste ano. Por outro lado, essa pressão sobre ela não deixou de ser um escândalo.

E, claro, essa pressão também veio de doadores bilionários, cristãos e judeus conservadores em sua maioria, que ameaçavam interromper suas "generosas" doações às universidades. Quem conhece as universidades americanas sabe que essas doações individuais de magnatas e investidores, que podem ser de milhões de dólares ou até de prédios e institutos inteiros, fazem a diferença.

Em segundo lugar, o "efeito Columbia University". O protesto na universidade de Columbia, em Nova York, que começou como um ato, transformou-se em um acampamento e passou a agregar cada vez mais apoiadores.

É difícil ignorar uma ocupação como essa em uma das maiores universidades do mundo, e ainda mais difícil impedir que ela não inspire outras ocupações semelhantes. E, claro, não se prende mais de 100 estudantes no campus da Columbia, com transmissão ao vivo, sem causar um efeito multiplicador de "desobediência civil" em outros campus pelo país.

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Terceiro, a ideia de que os acampamentos estariam formando ambientes fecundos em "discursos de ódio". Embora muitos estudantes judeus estejam neste momento apoiando e participando do acampamento em solidariedade aos civis palestinos em Gaza, grupos conservadores passaram a levantar a ideia de os acampamentos se transformarem em uma área perigosa e antissemita para os estudantes e professores judeus.

Isso trouxe o elemento da "vigilância" e "segurança" permanente. A repressão policial violenta autorizada sob a justificativa de coibir excessos e discursos antissemitas por parte de alguns estudantes, criou uma ampla rede nacional de solidariedade na comunidade estudantil e docente das universidades.

Para a direita, passou a ser assustador que, nas universidades de elite dos Estados Unidos, os filhos de uma elite judaica sionista conservadora e cristã ultraconservadora, local e global, estivessem com "suas vidas em risco" por movimentos pró-Palestina, ou que fossem vítimas de discursos antissemitas.

O discurso na Câmara

Tudo é ainda mais agravado pelo uso político da ala de extrema-direita do Partido Republicano e seus simpatizantes extremistas, com grupos sionistas ultraconservadores, que estão usando as ocupações como o marco de uma guerra política.

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Não é por acaso que nós vimos o presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, o republicano Mike Johnson, exigir a renúncia da presidente da Columbia. É um ataque direto, que lembra a articulação conservadora republicana contra o ensino da Teoria Crítica Racial nas escolas. O argumento é o mesmo: "disseminação de discurso de ódio",

Johnson é um conhecido cristão ultraconservador, adepto do nacionalismo cristão, uma ideologia de extrema-direita. Aos jornalistas, ele disse que "simplesmente não podemos permitir que este tipo de ódio e antissemitismo floresça nos nossos campus. E deve ser interrompido".

Enquanto isso, a ocupação de universidades vai ganhando o mundo, mostrando focos que alcançam principalmente a Europa. Está de pé uma poderosa provocação sobre o status da guerra e sua extensão. Não são apenas protestos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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