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Erdogan diz que Europa deve parar de criticar a Turquia

Tulay Karadeniz

Em Istambul (Turquia)

26/12/2014 18h08

O presidente turco, Tayyip Erdogan, criticou nesta sexta-feira países europeus que condenaram a deterioração da liberdade de imprensa na Turquia, afirmando que eles deveriam encontrar uma solução para o que classificou como o crescimento de um sentimento de "islamofobia" no continente europeu. 

A polícia turca invadiu no início do mês veículos de imprensa ligados ao clérigo muçulmano Fethullah Gulen, baseado nos Estados Unidos, que Erdogan acusa de formar um "estado paralelo" para minar seu governo e orquestrar um escândalo de corrupção entre seus aliados mais próximos. 

A União Europeia, que tem sido um objetivo para a Turquia há décadas, afirmou que os abusos contra a imprensa contrariam os valores europeus, uma crítica já rebatida por Erdogan. Nesta sexta-feira o presidente repetiu seu descontentamento em um tom muito mais firme. 

"Não somos o bode expiatório da Europa", disse Erdogan em um simpósio de funcionários públicos. "Definitivamente não somos um país para o qual a Europa pode apontar o dedo e dar bronca. Em vez de nos criticar, a Europa deveria encontrar uma solução para o crescente racismo e a islamofobia". 

Ele fez referência a um incidente na cidade alemã de Dormagen, onde ultranacionalistas desenharam símbolos nazistas nas paredes de uma construção de uma mesquita, de acordo com relatos da imprensa turca no início da semana. 

Erdogan, cujo partido AK foi eleito em 2002, introduziu muitas reformas democráticas em seus primeiros anos de governo e cortou o envolvimento dos militares na política.

Os aliados da Otan citam a Turquia como exemplo de uma democracia muçulmana bem sucedida, mas mais recentemente os críticos tem acusado Erdogan de intolerância com os seus opositores. 

Erdogan também repetiu sua determinação para fazer uma nova constituição, dizendo que o resultado das eleições gerais do ano que vem pode acelerar o processo. 

"Juntamente com a nossa nação e nossas instituições da sociedade civil, os resultados das eleições do dia 7 de junho irão abrir caminho para a elaboração de uma nova constituição", disse. 

Erdogan, que se tornou o primeiro chefe de Estado turco eleito popularmente em agosto após 12 anos como primeiro-ministro, não esconde sua ambição de mudar a constituição para aumentar os poderes de sua presidência, uma medida que os opositores temem que possa habilitar suas crescentes tendências autoritárias. 

O resultado das eleições parlamentares de junho será, portanto, a chave. Se o partido AK, do governo, conseguir dois terços da Casa, as reformas poderão ser introduzidas sem o apoio da oposição, incluindo a criação de um forte poder executivo, o principal objeto de desejo de Erdogan.