Ex-presos de Guantánamo refugiados no Uruguai foram convertidos quase em vegetais, diz Mujica
![Por Malena Castaldi](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/2015/02/25/presidente-do-uruguai-jose-mujica-concede-entrevista-a-reuters-1424909995730_615x300.jpg)
Os presos de Guantánamo que receberam refúgio no Uruguai foram convertidos quase em vegetais depois de terem sido submetidos ao isolamento na prisão norte-americana em Cuba, disse nesta quarta-feira (25) o presidente uruguaio, José Mujica.
O Uruguai recebeu em dezembro quatro sírios, um palestino e um tunisiano como parte do plano do presidente norte-americano, Barack Obama, de distribuir os prisioneiros na tentativa de fechar a penitenciária onde centenas de suspeitos de terem ligação com a Al Qaeda ficaram presos, muitos deles sem processo legal.
Os seis ex-presos muçulmanos foram alojados numa casa num bairro popular de Montevidéu, receberam dezenas de ofertas de emprego e aulas de espanhol, mas todos concordam que ainda não estão em condições de trabalhar e outro exige uma compensação dos Estados Unidos.
"São pessoas que estão destruídas", disse Mujica, um ex-guerrilheiro de 79 anos que gosta de quebrar o protocolo, em entrevista à Reuters. "Pegaram eles numa etapa jovem da vida e mataram mantendo-os presos."
Com a ajuda de uma entidade internacional, Mujica, que entregará o cargo ao colega de partido Tabaré Vázquez no domingo (1º), garantiu que o Uruguai dará apoio econômico aos ex-presos. Contudo, acredita que mesmo sendo instruídos durante anos, os esforços não vão dar muitos frutos.
"Falta neles o fogo interior, o afã de lutar pela vida, transformaram eles meio que em vegetais", disse Mujica.
Um dos ex-réus que já tem passaporte pediu, inclusive, para deixar o país sul-americano. "Estamos vendo em alguma embaixada de algum país árabe que o receba", afirmou.
A presença dos ex-presos deixou muitos uruguaios preocupados, no princípio, com a segurança, assim como aconteceu também com a controversa iniciativa de Mujica de legalizar a produção, venda e consumo de maconha.
Seu sucessor tem se mostrado cauteloso com a iniciativa sobre a maconha e disse que tomará todas as precauções para que o projeto não afete a segurança pública.
A proposta, que pretende se tornar uma alternativa para combater o tráfico de drogas, ganhou as páginas dos jornais no mundo todo, mas ainda não foi totalmente implementada pela falta de precedentes, o que tem complicado colocar as ideias em prática.
Mujica disse que o maior desafio para o sucesso da iniciativa de legalização pioneira é estabelecer um preço de venda de maconha que seja justo e menor ao do mercado negro.
"O obstáculo pode estar na relação de preços, para que chegue ao consumidor a um preço aceitável e que seja bom", disse ele à Reuters no seu modesto sítio localizado na periferia de Montevidéu. "Os produtores vão tentar ganhar mais dinheiro, como em qualquer negócio."
A experiência do Uruguai é acompanhada de perto por diferentes países do mundo e da própria região, que procuram novas alternativas para lutar contra as drogas depois de anos de combates frontais que não acabaram com o flagelo.
Mujica fez um balanço do seu governo e não se considerou um bom presidente. Apesar de conseguir estabilizar a economia e reduzir a pobreza com programas sociais, não freou a deterioração da educação, nem o avanço da insegurança.
"É provável que seja um agitador. Outros virão e o farão melhor", disse.
Vizinhos
Mujica garante que a região conseguiu uma ampla integração em termos políticos, mas nem sempre nos comerciais. E neste sentido destacou a vizinha Argentina, um dos seus principais países parceiros.
"A Argentina teria que se preocupar com seus problemas internos, mas também para o bairro. Não pode tratar o bairro como trata o resto do mundo, essa é a diferença", disse o presidente, referindo-se às restrições comerciais argentinas que reduziram as exportações uruguaias ao país em 15% nos últimos anos.
"Tem todo o direito de priorizar sua visão interna. Agora, considero que a visão interna é o Mercosul", acrescentou ele sobre o bloco comercial integrado também por Argentina, Brasil, Paraguai e Venezuela.
Mujica disse estar muito atento à crise na Venezuela e o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que enfrenta uma queda na popularidade em meio a uma recessão econômica.
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