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Teste com ratos mostra que Zika causa infertilidade em machos

31/10/2016 15h10

Por Julie Steenhuysen

CHICAGO (Reuters) - Um estudo feito com ratos infectados com Zika mostrou que o vírus causou danos de longa duração em células essenciais do sistema reprodutivo masculino, resultando no encolhimento de testículos, níveis baixos de hormônios sexuais e fertilidade reduzida, disseram pesquisadores dos Estados Unidos nesta segunda-feira.

Até agora as descobertas só se deram em ratos, mas os resultados são preocupantes o suficiente para justificar mais estudos por causa das possíveis implicações em humanos, disse o doutor Michael Diamond, da Universidade de Washington em St. Louis, cuja pesquisa foi publicada no periódico científico Nature.

"Isso tem que ser corroborado", disse Diamond, professor de patologia, imunologia e microbiologia molecular, em uma entrevista por telefone.

A maior parte do esforço global de combate ao Zika tem se concentrado na proteção de gestantes contra as infecções devido às implicações graves para seus fetos.

Ficou demonstrado que as infecções de Zika em mulheres grávidas causam microcefalia, uma má-formação craniana, além de outras anomalias cerebrais.

Estudos anteriores mostraram que o Zika pode permanecer no sêmen por até seis meses, mas não se sabe bem se a exposição prolongada ao vírus nos testículos pode causar danos.

Para estudá-lo, Diamond e colegas injetaram ratos machos com Zika. Após uma semana, os pesquisadores recuperaram vírus infecciosos dos testículos e do esperma, e encontraram indícios de genes virais em certas células dos testículos. Mas, no geral, os testículos pareceram normais quando comparados com os de outros ratos de laboratório.

Depois de três semanas, porém, as diferenças foram marcantes. Os testículos dos ratos infectados com Zika haviam encolhido para um décimo de seu tamanho normal, e sua estrutura interna estava destruída.

"Vimos indícios significativos de destruição dos túbulos seminíferos, que são importantes para gerar esperma novo", disse Diamond.

Os pesquisadores também descobriram que o Zika infecta e mata células de Sertoli, que mantêm a barreira entre a corrente sanguínea e os testículos e fomentam o crescimento do esperma. As células de Sertoli não se regeneram, o que representa uma ameaça de danos de longa duração.

"O vírus está infectando um local que na verdade não se renova quando é danificado. Esse é o problema", explicou Diamond.

Os exames de função testicular mostraram que a contagem de esperma, os hormônios sexuais e a fertilidade diminuíram. Os ratos infectados tinham quatro vezes menos chance de fecundar uma fêmea saudável do que os machos saudáveis.

Não existe vacina nem tratamento para o Zika.