Enel leva Celg-D com ágio de 28% e anima governo para privatizações no setor elétrico
Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A elétrica italiana Enel arrematou com um ágio de 28 por cento a distribuidora de energia elétrica goiana Celg-D, controlada pela Eletrobras, em leilão nesta quarta-feira que marcou a primeira privatização do governo do presidente Michel Temer no setor elétrico.
A companhia, a única a apresentar lance no certame, pagará 2,187 bilhões de reais por cerca de 95 por cento da Celg-D e ainda assumirá 2,656 bilhões de reais em dívidas e outras obrigações.
O lance da Enel, ante um preço mínimo de 1,7 bilhão de reais, surpreendeu o mercado e animou autoridades federais para uma série de novas vendas de ativos que a Eletrobras pretende realizar até o final de 2017.
Em agosto, o governo havia tentado licitar a Celg-D por um preço mínimo de 2,8 bilhões de reais, mas o valor foi considerado elevado à época e não atraiu interessados.
Com o sucesso da nova tentativa, o Brasil marca um retorno às privatizações como forma de atrair investimentos para o setor elétrico mais de 10 anos após o início de um primeiro ciclo de vendas de empresas públicas de eletricidade, realizado pelo governo Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2000.
"Esse leilão é o primeiro de uma série que o governo federal planeja... é um marco importante e um balizador desse processo", afirmou à Reuters o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) André Pepitone.
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, disse a jornalistas que o governo Temer não terá reservas para realizar essas vendas de ativos, que muitas vezes eram encaradas como um tabu pela gestão da petista Dilma Rousseff, afastada no final de agosto por um processo de impeachment.
Já foi decidido que a Eletrobras venderá até o final de 2017 mais seis distribuidoras de energia que atuam no Norte e Nordeste.
Além disso, o governo tem incentivado a venda de outras estatais, e São Paulo e Rio Grande do Sul indicaram recentemente que pretendem privatizar em breve suas elétricas Cesp e CEEE, respectivamente.
"Temos muita confiança... e agora com mais liberdade, porque utilizaremos a palavra privatização explicitamente durante todo o processo. Teremos muitos bons resultados... isso é bom para o Brasil", disse Pedrosa.
O modelo em que será realizada a venda das demais distribuidoras, no entanto, ainda não foi definido. O governo e a Eletrobras vão se apoiar em estudos conduzidos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para definir como serão realizadas essas licitações.
A Reuters antecipou na última sexta-feira que apenas uma proposta seria feita no leilão, com base em uma fonte com conhecimento do assunto.
ENEL E ELETROBRAS COMEMORAM
A Enel, que já possui ativos em geração no Brasil e controla distribuidoras de eletricidade no Ceará e no Rio de Janeiro, comemorou o resultado, que elevará a base da companhia no país de 7 milhões para 10 milhões de clientes.
O diretor da elétrica italiana para o Brasil, Carlo Zorzoli, disse que a Enel pagará à vista pela compra da Celg no final de janeiro e que o grupo ainda tem fôlego para novos negócios no país.
"O desenvolvimento do grupo Enel no Brasil não acaba hoje... temos não só crescimento em novas oportunidades, mas também um plano de investimento em nossas concessões focado em qualidade, modernização", disse.
A Enel anunciou recentemente que pretende investir 3,2 bilhões de euros no Brasil até 2019.
A Eletrobras também comemorou o resultado da licitação, uma vez que o lance oferecido pela Enel fará com que entrem em seus cofres 1,065 bilhão de reais por sua fatia de 51 por cento na Celg-D. O restante dos recursos irá para o governo de Goiás.
O presidente da elétrica estatal, Wilson Ferreira Jr., dise que a Eletrobras utilizará esses recursos para pagar dívidas mais caras e curtas e também para bancar um plano de investimentos que prevê aportes de 35,8 bilhões de reais entre 2017 e 2021..
Ferreira também ressaltou que o resultado do leilão da Celg-D mostra que deve haver apetite pelas demais distribuidoras que a Eletrobras pretende vender, que atuam no Acre, Alagoas, Amazonas, Rondônia, Roraima e Piauí.
"Tem muito valor nessas companhias... não tenho dúvida de que há muito valor a ser extraído dessas concessões", afirmou o executivo.
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