Venda da Celg-D anima governo para novas privatizações no setor elétrico
Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A privatização da distribuidora de eletricidade goiana Celg-D animou as autoridades federais para uma série de novas vendas de ativos que a estatal Eletrobras deverá realizar em 2017.
A participação de cerca de 95 por cento da Eletrobras e do Estado de Goiás na Celg-D foi vendida para a italiana Enel por 2,187 bilhões de reais, com um ágio de 28 por cento, em leilão realizado nesta quarta-feira.
O movimento marca um retorno do Brasil às privatizações como forma de atrair investimentos para o setor elétrico mais de 10 anos após o início de um primeiro ciclo de vendas de empresas públicas de eletricidade, realizado pelo governo Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2000.
"Esse leilão é o primeiro de uma série que o governo federal planeja... é um marco importante e um balizador desse processo", afirmou à Reuters o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) André Pepitone.
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, disse a jornalistas que o governo do presidente Michel Temer não terá reservas para realizar essas vendas de ativos, que muitas vezes eram encaradas como um tabu pela gestão da petista Dilma Rousseff, afastada no final de agosto por um processo de impeachment.
Já foi decidido que a Eletrobras venderá até o final de 2017 mais seis distribuidoras de energia que atuam no Norte e Nordeste.
Além disso, o governo tem incentivado a venda de outras estatais, e São Paulo e Rio Grande do Sul indicaram recentemente que pretendem privatizar em breve suas elétricas Cesp e CEEE, respectivamente.
"Temos muita confiança... e agora com mais liberdade, porque utilizaremos a palavra privatização explicitamente durante todo o processo. Teremos muitos bons resultados nas distribuidoras (da Eletrobras)... isso é bom para o Brasil. Estamos pegando distribuidoras que são as últimas da fila em qualidade (do serviço ao cliente) e com nova gestão elas irão se reposicionar”, disse Pedrosa a jornalistas após o certame.
O modelo em que será realizada a venda das demais distribuidoras da Eletrobras, no entanto, ainda não foi definido. O governo e a estatal vão se apoiar em estudos conduzidos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para definir como serão realizadas essas licitações.
ESPAÇO PARA PRIVADAS
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, disse a jornalistas que a estatal vê "muito valor" nas empresas que pretende vender, que estão em regiões com grande potencial de crescimento econômico.
Além disso, ele disse que os investidores que ficarem com as empresas poderão ter ganhos importantes se conseguirem reduzir as perdas de energia das distribuidoras, causadas principalmente por furtos, um problema que a Eletrobras e outras estatais têm tido dificuldades para enfrentar.
O executivo também afirmou que os planos não deverão ser atrapalhados por resistência política ou dos sindicatos, que têm se posicionado contra as vendas de ativos.
"Não senti até agora nenhuma ação (política) contrária a isso, acho que a gente tem recebido muito apoio. O caminho é explicitamente da privatização, que é o que vai garantir melhor qualidade, redução das perdas, melhores preços (para o consumidor). Não tenho dúvida... esse movimento da Eletrobras praticamente sela que o negócio de distribuição é para bons players privados."
ENEL EXPANDE
O diretor da italiana Enel para o Brasil, Carlo Zorzoli, disse que a aquisição da Celg-D levará a base da empresa no Brasil para 10 milhões de clientes, ante 7 milhões até então. A empresa já controla distribuidoras no Ceará e no Rio de Janeiro e também possui ativos em geração.
"Temos a capacidade técnica, econômica e a vontade de trabalhar para respeitar os limites regulatórios em termos de qualidade... a gente vai trabalhar para que a Celg seja uma história de êxito", disse o executivo, sem descartar a participação da empresa em novas disputas por ativos no setor.
"O desenvolvimento do Grupo Enel no Brasil não acaba hoje", apontou.
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