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Indústria da soja do Brasil vê prejuízo de US$400 mil/dia por atoleiros na BR-163

24/02/2017 19h36

Por Roberto Samora e Leonardo Goy

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - Chuvas fortes e atoleiros no trecho não asfaltado da BR-163 estão impedindo que a soja chegue aos portos do Norte do país, o que resulta em prejuízos de 400 mil dólares ao dia, com a impossibilidade de embarcar o produto, informou nesta sexta-feira a associação que representa as indústrias da oleaginosa no Brasil (Abiove).

Segundo a Abiove, os 178 quilômetros da rodovia sem pavimentação, entre Sinop (MT) e Itaituba (PA), estão com sérios problemas para o tráfego neste mês, resultando em longas filas de caminhões que transportam a soja de Mato Grosso, numa nova rota de exportação do país que ganhou força com a implantação de portos no Norte recentemente.

No início da semana, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já havia dito que a exportação pelo chamado Arco Norte ficará abaixo da expectativa, com as empresas remanejando as cargas para os portos do Sul e Sudeste.

As chuvas reduziram a capacidade de tráfego da rodovia de 800 para 100 caminhões/dia, e, desde o dia 14 de fevereiro, já não chegam caminhões nos terminais fluviais de Miritituba (PA), onde a soja é repassada para barcaças, que seguem pelo Rio Tapajós para alcançar portos fluviais no Rio Amazonas. De lá, os terminais despacham finalmente o produto para exportação em navios graneleiros.

Em Miritituba, as empresas não recebem soja desde o último sábado, informou o gerente de economia da Abiove à Reuters, Daniel Furlan Amaral.

"Os embarques pararam desde então, pois só chegam caminhões rebocados, ou seja, volumes insignificantes por dia. Mesmo com a elevação dos preços de fretes, as empresas transportadoras se recusam a pegar mais cargas para esse destino", disse ele.

Isso acaba tendo uma reação em cadeia no Brasil, atingindo o escoamento no maior exportador global de soja, onde as tradings já estão sendo pressionadas por lentas vendas de agricultores.

Para cada dia em que os portos ficam impedidos de embarcar mercadorias, pela falta do produto represado na BR-163, o prejuízo para as empresas é de 400 mil dólares diários, considerando os chamados custos de elevação e "demurrage" (sobre-estadia) do navio, segundo cálculos da Abiove e da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

"Além desse ônus, há prejuízos incalculáveis com descumprimento de contratos, riscos financeiros com produtores e armazéns e, sem dúvida, riscos para a imagem do Brasil", disse a Abiove.

Segundo o gerente da Abiove, seria possível remanejar cargas para os portos do Sul, como comentou o ministro Blairo, mas os custos são elevados e as operações muitas vezes inviáveis, pois envolvem reprogramação dos embarques rodoviários e ferroviários e da reprogramação do recebimento nos portos. Além disso, a oferta de caminhões é limitada.

PRESSÃO SOBRE LOGÍSTICA

As chuvas que tornam problemático o tráfego na rodovia estão limitando o ritmo da colheita em fevereiro em Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil. Mas, como os trabalhos começaram adiantados este ano, mesmo com as precipitações da área colhida é maior que no mesmo período do ano passado, atingindo 66 por cento do total plantado, o que aumenta a pressão sobre a logística.

A Abiove e a Anec estimam que nesta safra poderiam ser embarcados pelos terminais de Miritituba e Santarém (PA) cerca de 7 milhões de toneladas de soja e milho, uma projeção desafiadora diante dos problemas.

De acordo com empresas associadas, há caminhoneiros que agora levam 14 dias para transportar a mercadoria em um percurso de mil quilômetros.

Nesse período, teria sido possível fazer uma viagem de ida e volta para Santos (SP) ou Paranaguá (PR), os principais portos do Brasil.

Segundo a Abiove, o asfaltamento da BR-163 é de responsabilidade do governo federal, sobretudo do Ministério dos Transportes. Os trabalhos do controle de tráfego e ordenamento, inclusive com sistema de siga e pare, cabe ao Ministério da Justiça e da Polícia Rodoviária Federal, afirmou associação.

Procurado, o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil informou que o governo federal vai iniciar, ainda no Carnaval, "ação para atendimento emergencial àqueles que se encontram parados nas filas, inclusive com distribuição de mantimentos, água e medicamentos".

Além disso, informou o Ministério que, além das equipes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) que já se encontram na rodovia, serão também deslocados para o local, no sábado, equipes da Polícia Rodoviária Federal-PRF e do Exército para "ordenar o trânsito a fim de que os equipamentos possam executar os serviços de manutenção a contento, permitindo a liberação do tráfego".

Outra ação do governo será a criação de um grupo local de monitoramento e operação do tráfego, do qual farão parte agentes do DNIT, Policia Rodoviária, transportadores e embarcadores para que as decisões sejam tomadas conjuntamente, "regulando a intensidade do tráfego e as atividades de manutenção a fim de garantir o fluxo contínuo na rota de escoamento da safra", disse o Ministério dos Transportes.

(Por Roberto Samora e Leonardo Goy)