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EXCLUSIVO-Rússia corre risco de décadas de crescimento econômico lento devido a sanções dos EUA

27/07/2017 12h54

Por Darya Korsunskaya e Alexander Winning e Andrew Osborn

MOSCOU (Reuters) - A Rússia corre o risco de sofrer com o peso das sanções dos Estados Unidos durante décadas, o que frearia o crescimento econômico e impediria o país de se manter como uma potência econômica de destaque, disse um conselheiro do presidente russo, Vladimir Putin, em uma entrevista.

Alexei Kudrin disse à Reuters que a atual proposta de endurecimento de sanções feita por Washington não deve ter nenhum impacto sério, mas pediu um grande programa de reformas estruturais depois da eleição presidencial de 2018.

Ele afirmou se tratar da única maneira de a Rússia voltar a crescer mais de 2 por cento ao ano.

Putin ainda não revelou se vai concorrer à reeleição no ano que vem, mas é grande a expectativa de que o faça e conquiste o que seria um quarto mandato.

O líder russo encarregou Kudrin, que o conhece desde que os dois trabalharam juntos na prefeitura de São Petersburgo nos anos 1990, de elaborar uma estratégia para acelerar o crescimento econômico russo depois de 2018.

Embora Putin tenha capitaneado anos de crescimento acima dos 5 por cento anuais em seus primeiros mandatos presidenciais, a economia da Rússia sofreu dois anos de retração em 2015 e 2016, e a expectativa é que cresça pouco mais de 1 por cento neste ano. Em maio o Produto Interno Bruto (PIB) mostrou um crescimento anual de 3,1 por cento, mas não se espera que esse ritmo se mantenha.

A desaceleração econômica colocou Putin sob pressão.

Parlamentares dos EUA votaram no início da semana em favor da imposição de sanções contra Moscou, que se somariam a penalidades anteriores devido a seu papel no conflito da Ucrânia. Kudrin disse que o clima em Washington torna difícil para o presidente norte-americano, Donald Trump, amenizar as sanções no futuro.

"Em sua forma atual, o acirramento das sanções em discussão não afetaria seriamente a economia russa, não há mudanças sérias na versão existente. Mas a esperança de que as sanções seriam cancelas nos próximos anos agora diminuiu", afirmou.

"Provavelmente acabaremos com a história da velha emenda Jackson-Vanik – mesmo quando todas as condições já tinham mudado, eles não conseguiram cancelá-la".

A Jackson-Vanik, uma cláusula de 1974 de uma lei federal dos EUA que puniu países do bloco comunista por restringirem os direitos humanos, só foi revogada em 2012 pelo ex-presidente Barack Obama, e foi um grande pomo da discórdia entre Moscou e Washington.

JANELA DE OPORTUNIDADE

Kudrin, que atuou como ministro das Finanças entre 2000 e 2011, hoje comando o Centro de Pesquisa Estratégica, um grupo de análise fundado por iniciativa de Putin para formular propostas de políticas governamentais.

Kudrin disse que as sanções ocidentais em sua configuração atual estão derrubando o PIB russo em cerca de 0,5 por cento ante 1 por cento no ano posterior à indrodução das medidas em 2014.

A Rússia tem uma "janela de oportunidade" após as eleições de 2018, para implementar reformas significativas para contrariar os efeitos das sanções, disse ele. Mas, por enquanto, o entorno populista de Putin está se sobrepondo aos que pedem reformas.

"Até que ponto o presidente usará essa (janela), não sabemos", disse Kudrin. "Depois das eleições anteriores, essa janela para as reformas não foi usada".

Entre as reformas que Kudrin pede, estão um maior controle público sobre os funcionários responsáveis pela aplicação da lei; aumento da idade para aposentadoria; redução das participações governamentais em grandes empresas; e melhora da arrecadação da economia informal.

Ele disse acreditar que o Estado deveria vender participações governamentais em empresas petrolíferas russas por etapas nos próximos seis a dez anos e que poderia vender uma parcela de sua participação majoritária no maior banco Sberbank no mesmo período.

Com tais reformas, Kudrin disse que a Rússia poderia aumentar a sua taxa de crescimento econômico para 3 a 4 por cento em um prazo de cinco a seis anos, mesmo que as sanções sejam mantidas.

Sem reformas, a Rússia não perceberá o dano das sanções antes que seja muito tarde, disse ele.

((Tradução Redação Sçao Paulo, +5511 56447719))

REUTERS RBS