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Fundador da Playboy, Hugh Hefner, morre aos 91 anos

28/09/2017 09h22

Por Bill Trott

(Reuters) - O fundador da Playboy, Hugh Hefner, que ajudou a abrir caminho para a revolução sexual da década de 1960 com sua pioneira revista masculina, e que construiu um império de negócios ao redor de seu estilo de vida libertino, morreu na quarta-feira aos 91 anos, informou a Playboy Enterprises.

Hefner, uma vez chamado de "profeta do hedonismo pop" pela revista Time, faleceu de forma pacífica em sua casa, disse a Playboy Enterprises, em comunicado.

Hefner era às vezes caracterizado como um muito sexualizado Peter Pan, uma vez que mantinha um harém de jovens loiras, totalizando até sete mulheres, em sua lendária mansão da Playboy. Isso foi retratado no reality show "The Girls Next Door", transmitido de 2005 até 2010.

"Eu nunca vou crescer", disse Hefner, em entrevista à CNN, quando tinha 82 anos.

"Permanecer jovem é tudo para mim. Manter vivo meu lado menino, e muito tempo atrás decidi que a idade não importa, e contanto que as mulheres... se sintam da mesma maneira, está ótimo para mim."

Hefner sossegou um pouco em 2012, aos 86 anos de idade, quando se casou com Crystal Harris, que era 60 anos mais jovem, em seu terceiro casamento.

Ele disse que seu estilo de vida festeiro pode ter sido uma reação à criação em uma família repressora na qual as demonstrações de afeto eram raras.

Sua assim chamada infância atrofiada levou à criação de um empreendimento multimilionário centrado em mulheres nuas, mas também deu ensejo à "filosofia Playboy" de Hefner, baseada em romance, estilo e a recusa de ditames morais.

Essa filosofia ganhou vida nas festas lendárias em suas mansões – primeiro em sua nativa Chicago e depois na vizinhança privilegiada de Holmby Hills, em Los Angeles –, onde legiões de celebridades masculinas se aglomeravam para se misturar a mulheres jovens e lindas.

Em 1963, muito antes de a Internet tornar a nudez onipresente, Hefner foi processado por publicar e circular fotos de celebridades e aspirantes a estrelas despidas, mas foi absolvido.

Hefner fez da Playboy a primeira revista masculina chamativa e elegante, que além dos pôsteres centrais de nus tinha apelo intelectual para homens que gostavam de dizer que não a compravam só pelas fotos graças à presença de escritores de destaque como Kurt Vonnegut, Joyce Carol Oates, Vladimir Nabokov, James Baldwin e Alex Haley.

Entrevistas aprofundadas com figuras históricas como Fidel Castro, Martin Luther King Jr., Malcolm X e John Lennon também eram um atrativo frequente.

"Nunca pensei na Playboy, com muita franqueza, como uma revista de sexo", disse Hefner à CNN em 2002. "Sempre pensei nela como uma revista de estilo de vida na qual o sexo era um ingrediente importante."

Hefner se revelou um gênio no posicionamento da marca. A silhueta de coelho da publicação se tornou um dos logotipos mais conhecidos do mundo, e as garçonetes "coelhinhas" de seus clubes noturnos eram inconfundíveis com seus uniformes decotados semelhantes a maiôs, gravatas borboleta, rabos de algodão e orelhas de coelho.

Hef, como ele começou a chamar a si mesmo na escola secundária, também era um logotipo ambulante da Playboy, presidindo seu reinado em pijamas de seda e paletó de smoking e soltando baforadas com um cachimbo.

"O que eu criei veio de meus sonhos de fantasias de adolescente", contou ele à CNN. "Estava tentando redefinir o que significava ser um homem jovem, urbano e sem compromisso."

Depois de ser copista da revista Esquire, Hefner se casou e trabalhou no departamento de circulação da revista Children's Activities, quando começou a imaginar o que viria a ser a revista Playboy.

A primeira edição saiu em dezembro de 1953, com fotos da atriz Marilyn Monroe nua, e foi um sucesso. À medida que decolava, a publicação se tornou alvo da direita por causa da nudez e da esquerda devido às feministas que diziam que a Playboy reduzia as mulheres a objetos sexuais.

Hefner declarou certa vez que o sexo é "o principal fator motivacional no decurso da história humana" e, usando esse princípio como um modelo de negócios, a Playboy floresceu durante a revolução sexual, chegando a uma circulação de 7 milhões de exemplares nos anos 1970.

Na década seguinte ele teve problemas com as concorrentes Penthouse e Hustler – revistas que tinham fotos muito mais explícitas –, e no século 21 o impacto social da Playboy já havia diminuído consideravelmente. Os Clubes Playboy fecharam em 1991, mas seriam parcialmente ressuscitados.

Depois de sofrer um pequeno derrame em 1985, Hefner fez de sua filha, Christie, a diretora-executiva da Playboy Enterprises, e ela reformulou o negócio até deixar o cargo, em 2009. O filho de Hefner, Cooper, que era quase 40 anos mais jovem que Christie, assumiu um papel de destaque na empresa em 2014.

"Meu pai viveu uma vida excepcional e impactante como pioneiro da mídia e da cultura e como uma das principais vozes por trás de alguns dos movimentos sociais e culturais mais significativos de nosso tempo, defendendo a liberdade de expressão, os direitos civis e a liberdade sexual", disse Cooper em um comunicado, de acordo com postagens em redes sociais.

A partir de março de 2016 a Playboy deixou de publicar nus frontais totais, uma reformulação da marca que seria inimaginável no auge da revista.

Ela retomou os nus um ano depois, quando Cooper anunciou uma nova filosofia para a companhia.

Em agosto de 2016, um dos vizinhos de Hefner, um investidor de private equity, comunicou ter comprado a mansão Playboy por 100 milhões de dólares com a condição de que Hefner poderia continuar morando no local até sua morte.

Antes da Playboy, Hefner se casou com Millie Williams em 1949 e se divorciou em 1959, iniciando um período durante o qual se tornou a encarnação do solteirão. As muitas mulheres que dividiram sua cama redonda, motorizada e vibratória incluíram modelos que posaram para sua revista, e em 1989 ele se casou com uma delas, a Playmate do Ano Kimberly Conrad.

Eles tiveram dois filhos, mas o experimento de Hefner com um estilo de vida mais doméstico terminou em divórcio 10 anos depois. Kimberly se mudou para uma casa ao lado da do ex-marido para poder ficar perto dos filhos.

Em 2008, depois que uma de suas namoradas, Holly Madison, terminou o relacionamento, Hefner disse que tinha esperança de passar o resto da vida ao seu lado. Pouco depois ele acrescentou gêmeas de 19 anos a seu séquito, mas mais tarde voltou a optar pelo casamento com Crystal Harris.

(Por Subrat Patnaik em Bengaluru, Brendan O'Brien em Milwaukee e Alex Dobuzinskis em Los Angeles)