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Pacotes suspeitos são enviados a lideranças democratas duas semanas antes de eleição nos EUA

24/10/2018 15h46

Por Makini Brice e Jonathan Allen

WASHINGTON/NOVA YORK (Reuters) - A polícia interceptou supostos artefatos explosivos enviados ao ex-presidente norte-americano Barack Obama, à ex-candidata presidencial democrata Hillary Clinton e outros democratas do alto escalão, no que autoridades de Nova York descreveram nesta quarta-feira como um ato de terrorismo.

Com o país profundamente polarizado sob o comando do presidente Donald Trump, os pacotes elevaram ainda mais a tensão de disputas políticas que decidirão se os democratas conseguem desafiar as maiorias dos republicanos de Trump no Congresso.

A redação da CNN em Nova York também recebeu um dispositivo que parecia uma bomba, levando a polícia a esvaziar o prédio, e o governador de Nova York, Andrew Cuomo, um democrata, disse que seu gabinete também recebeu um pacote suspeito. A CNN reportou que Eric Holder, que era advogado-geral dos Estados Unidos sob Obama, também estava entre os alvos.

"Isto é claramente um ato de terrorismo", disse o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, em uma coletiva de imprensa.

Trump condenou o que chamou de "atos desprezíveis" e prometeu que levará os responsáveis à Justiça.

"Nesses tempos, temos que nos unir, temos que estar juntos, e mandar uma mensagem muito clara, forte e inconfundível, de que atos ou ameaças de violência política de qualquer tipo não têm espaço nos EUA", disse Trump na Casa Branca.

"Estamos extremamente bravos, tristes e infelizes sobre o que testemunhamos nesta manhã e chegaremos à verdade", afirmou Trump.

Uma bomba semelhante foi entregue mais cedo nesta semana à casa de George Soros, um importante doador do Partido Democrata.

Não houve nenhuma reivindicação de autoria.

Todos os alvos são frequentemente depreciados por críticos de direita e por Trump, cuja porta-voz condenou os atos.

"Estes atos aterrorizantes são desprezíveis, e qualquer responsável terá que responder plenamente diante da lei", disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders. "O Serviço Secreto dos Estados Unidos e outras agências da lei estão investigando e adotarão ações apropriadas para proteger qualquer pessoa ameaçada por estes covardes".

O pacote para Hillary foi descoberto na noite de terça-feira, e outro endereçado a Obama na manhã desta quarta-feira, ambos durante verificações de correspondência rotineiras, disse o Serviço Secreto, acrescentando que Obama e Hillary não correram risco.

A polícia interceptou um artefato explosivo ativado e um envelope contendo um pó branco no Time Warner Center, que abriga a redação nova-iorquina da CNN, disse o comissário James O'Neill na coletiva de imprensa. Especialistas estão analisando o pó para saber se é uma substância perigosa, explicou ele.

Nas semanas seguintes aos ataques de 11 de setembro de 2011, esporos de antraz foram enviados a redações de veículos de notícias e a dois senadores dos Estados Unidos, matando cinco pessoas e infectando 17 outras.

O Time Warner Center foi esvaziado "por excesso de zelo", disse o presidente da CNN, Jeff Zucker, em uma nota aos funcionários, e informou que a CNN está verificando suas redações em todo o mundo.

A polícia de Nova York emitiu um alerta de emergência de curta duração para que as pessoas ao redor do edifício, que fica perto da extremidade sul do Central Park, se "abrigassem onde estivessem".

A CNN é um alvo frequente de Trump, que classifica a imprensa constantemente de "inimiga do povo" e menospreza a cobertura crítica rotulando-a de "notícias falsas".

A CNN noticiou que o pacote que recebeu foi endereçado ao ex-diretor da CIA John Brennan, comentarista que é convidado frequente do canal.

Brennan é um crítico explícito de Trump, e classificou sua atuação em uma coletiva de imprensa de julho em Helsinque com o líder russo, Vladimir Putin, como "nada menos que um ato de traição".

(Por Makini Brice e Jonathan Allen; Steve Holland, Doina Chiacu, Mark Hosenball e Susan Heavey em Washington, Gina Cherelus e Gabriella Borter em Nova York; reportagem adicional de Subrat Patnaik em Bengaluru)