Topo

Merkel se volta à África para consolidar legado moldado pela imigração

30/10/2018 11h20

Por Thomas Escritt

BERLIM (Reuters) - A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, recebeu líderes de países da África nesta terça-feira visando combater o subdesenvolvimento no continente que ajudou a desencadear a imigração em massa para a Europa, moldando os anos finais do longo tempo da líder conservadora no cargo.

Merkel anunciou na segunda-feira que se afastará da política depois de eleição de 2021, desencadeando ondas de choque pela Europa e dando a largada a uma corrida sucessória.

A chanceler precisa da cúpula do Pacto com a África para mostrar que houve progresso no enfrentamento das repercussões de um dos momentos que definiram seus 13 anos no poder: sua decisão de abrir as portas da Alemanha para mais de 1 milhão de refugiados em 2015.

A cúpula de Berlim, que tem a participação de 12 líderes de países africanos, como o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, o etíope Abiy Ahmed e o ruandês Paul Kagame, foi concebida para retratar o continente como um destino estável para o investimento alemão.       

A meta é criar bons empregos para os africanos, amenizando a pobreza que, juntamente com a instabilidade política e a violência, estimulou muitos a seguirem para a Europa.

"Temos que estar atentos para não ficarmos no 'modo ajuda'", disse o coordenador de Merkel para a África, Guenter Nooke, à rádio pública. "Os muitos milhões de empregos de que precisamos na África não podem ser criados com dinheiro público".

Se Merkel quiser garantir que a liderança de sua União Democrata-Cristã (CDU) passe para um aliado de centro, como a atual secretária-geral, Annegret Kramp-Karrenbauer, precisa mostrar que progrediu corrigindo as condições que levaram à sua decisão fatídica três anos atrás.

Outros candidatos, como o ministro da Saúde, Jens Spahn, ou seu antigo rival, o pró-mercado Friedrich Merz, estão bem à sua direita politicamente, e é de se esperar que contestem grande parte de seu legado.

Merkel apresentou sua decisão de abrir as fronteiras alemãs a refugiados em fuga das guerras e da pobreza no Oriente Médio e na África como uma necessidade inevitável determinada pela vasta escala da maré humana.

A crise abalou a política europeia e revitalizou o partido Alternativa para a Alemanha, cuja exigência de que o país feche suas divisas para os imigrantes ajudou a impulsionar seu avanço no Parlamento na eleição do ano passado.

Mas autoridades do entorno da chanceler acreditam que a imigração só pode ser freada de forma sustentável retirando os fatores de "impulsionamento", ou seja, o desemprego e a instabilidade na África, que só serão exacerbados pela mudança climática.

(Reportagem adicional de Michael Nienaber)

((Tradução Redação Rio de Janeiro; 55 21 2223-7128))

REUTERS PF