Thiago Herdy

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Reportagem

Prefeitura de SP: Filho de servidor morou em imóvel de campeão de contratos

Um jovem de 19 anos, filho do então chefe de gabinete da Siurb (Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras), Eduardo Olivatto, morou em um imóvel que pertence a uma empresa do campeão de obras emergenciais pagas pela Prefeitura de São Paulo, Fernando Marsiarelli.

Este é o quarto imóvel vinculado ao empresário a ser ocupado por alguém ligado à administração Nunes ou um parente.

Marsiarelli é dono da F.F.L. Sinalização, Comércio e Serviços, firma que mais assinou contratos emergenciais com a Siurb durante a primeira gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A empresa faturou R$ 624,1 milhões em obras para recuperação de pontes e contenção de margens de córregos da cidade nos últimos quatro anos, período em que recursos para obras deste tipo e sem licitação explodiram, com indícios de conluio.

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Imagem: Arte/UOL

Além de seu filho, o chefe de gabinete da Siurb, Eduardo Olivatto, ocupou imóveis de Marsiarelli, bem como o presidente da ADE Sampa, Renan Marino Vieira, e o próprio prefeito, Ricardo Nunes.

Nos três casos, eles afirmam ter pagado pelo aluguel dos imóveis. O uso dos apartamentos foi noticiado por reportagens do UOL e da Folha de S.Paulo.

No caso do apartamento usado pelo filho do ex-chefe de gabinete, que é estudante universitário, não houve pagamento de aluguel, de acordo com a assessoria de imprensa de Olivatto.

Por meio de nota, a assessoria informou que atualmente o rapaz "não reside no endereço citado, não tem emprego público, não tem contrato com nenhum ente público e é um estudante que, como qualquer cidadão, tem direito constitucional ao sigilo de sua vida".

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Duplex em Pinheiros

O apartamento onde o estudante morou é um duplex com 58 m² situado no 14º andar de um condomínio de alto padrão na Rua Francisco Leitão, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.

O imóvel foi adquirido por Marsiarelli por meio de uma de suas empresas, a Imóveis Ravello, em junho de 2023, por R$ 1,095 milhão.

O nome do rapaz consta na lista de moradores que fica na portaria do prédio, obtida pelo UOL.

Segundo um funcionário do edifício e moradores ouvidos pela reportagem, ele deixou o endereço recentemente, e o apartamento 142 atualmente está vazio.

A reportagem mostrou uma imagem do rapaz aos entrevistados e ela foi reconhecida como a do antigo morador do apartamento de Marsiarelli.

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Imagem: Arte/UOL

Eduardo Olivatto é servidor concursado da prefeitura de São Paulo e deixou o cargo de chefe de gabinete em novembro deste ano, logo após a reeleição de Ricardo Nunes, por iniciativa própria.

A CGM (Controladoria-Geral do Município) de São Paulo abriu um procedimento para apurar a conduta do servidor.

O UOL perguntou ao ex-chefe de gabinete se ele sabia que Marsiarelli era o dono do apartamento onde seu filho havia residido e se ele pagava aluguel.

Em um primeiro momento, o funcionário divulgou a seguinte nota:

"Essa informação não procede. Ele não mora, nunca morou, nem alugou esse imóvel".

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A reportagem informou, então, à assessoria, que o nome do filho de Olivatto constava na lista de moradores da portaria do prédio e que ele havia sido reconhecido por foto como o antigo ocupante do apartamento.

Eduardo Olivatto divulgou uma nova nota, em que retira a negativa a respeito de eventual passagem do filho pelo apartamento.

Segundo a nota, o rapaz "não reside no endereço citado, não tem emprego público, não tem contrato com nenhum ente público e é um estudante que, como qualquer cidadão, tem direito constitucional ao sigilo de sua vida".

Continua o texto:

"Estranha o fato de a reportagem ter acesso a informações pessoais de um estudante, como é o caso de um suposto endereço, e, baseado numa lista que se negou a fornecer à defesa, publicar uma matéria com ilações. Gustavo não tem nenhum vínculo de trabalho com seu pai", escreveu.

Por meio de nota, Fernando Marsiarelli informou que o apartamento em questão está disponível para locação.

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Na nota, ele diz que "não alugou apartamento para Gustavo Olivatto, com quem não mantém vínculo".

O UOL perguntou, então, por que o filho de Eduardo Olivatto é citado na lista de moradores do edifício como último ocupante do apartamento 142, mas não houve resposta.

Outros imóveis ocupados por Nunes e aliados

Eduardo Olivatto ocupou outros dois imóveis de alto padrão de Marsiarelli: um apartamento de 266 m² na Zona Sul e uma cobertura de 228 m² em Pinheiros, como mostrou o UOL.

Antes de Olivatto, Ricardo Nunes ocupou o apartamento de 266 m² na Zona Sul, segundo reportagem da Folha de São Paulo.

Nunes e família se mudaram apenas dez dias depois de a empresa de Marsiarelli comprar o imóvel, para um contrato de aluguel temporário, inicialmente de três meses, enquanto a casa do prefeito estava em reforma.

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O presidente da ADE Sampa, Renan Marino Vieira, ocupou outro apartamento de luxo de Marsiarelli, com 233 m², na Zona Sul.

Em todos os casos, as assessorias argumentam que a locação dos imóveis de Marsiarelli não se relaciona com os contratos da F.F.L. com a prefeitura.

Após a publicação das reportagens sobre os episódios, a Promotoria de Justiça do Patrimônio Público de São Paulo passou a investigar os casos.

Pagamento de aluguel

O apartamento onde o filho de Olivatto morou fica a cerca de um quilômetro do imóvel em um prédio de luxo onde o pai vive com a esposa, Christiane.

O aluguel em um apartamento de tamanho similar em Pinheiros, com condomínio e IPTU, não sai por menos de R$ 20 mil mensais, segundo pesquisa em imobiliárias.

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Já o custo mensal do duplex onde viveu o filho está em torno de R$ 6 mil.

Assim, o custo total de moradia da família Olivatto em Pinheiros, somando a cobertura e o duplex, passaria de R$ 26 mil ao mês, se houvesse pagamento regular de aluguel dos dois imóveis.

Antes de ser exonerado, Olivatto tinha um rendimento mensal líquido na Prefeitura de R$ 21 mil. A mulher, Christiane, é dona de casa, de acordo com documentos oficiais.

Olivatto e Marsiarelli dizem que o pagamento do aluguel da cobertura está em dia, mas não informam o valor do contrato.

Líder em contratos emergenciais

Uma das empresas do dono do imóvel onde Vieira mora, a F.F.L. faturou nos últimos quatros anos R$ 624,1 milhões em contratos sem licitação em São Paulo.

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É o maior volume em contratos assinados nesta modalidade por uma empresa no âmbito da Siurb durante a primeira gestão de Ricardo Nunes.

No período, o órgão assinou contratos emergenciais que totalizaram R$ 5,5 bilhões.

Em março deste ano, o UOL noticiou haver indícios de combinação entre empresas convidadas a realizarem essas obras.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, "as obras emergenciais são realizadas em respeito à lei e têm suas execuções acompanhadas pelo Tribunal de Contas do Município (TCM)".

A Imóveis Ravello, empresa imobiliária de Marsiarelli, foi aberta em abril de 2022, com capital de R$ 1 milhão. Em julho de 2024, o capital social alcançou R$ 32,4 milhões.

De maio de 2022 até setembro de 2024, ela adquiriu oito imóveis residenciais na capital paulista. Quatro deles foram utilizados por pessoas ligadas à administração Nunes.

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A empresa está registrada em nome do empresário, de sua esposa e filhos.

O período de crescimento da empresa, a partir de 2021, coincide com a evolução dos contratos emergenciais na cidade.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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