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Se relatos se confirmarem, caso João de Deus será maior escândalo sexual do país, diz promotor

12.dez.2018 - Primeira aparição pública de João de Deus após divulgação das denúncias - AP
12.dez.2018 - Primeira aparição pública de João de Deus após divulgação das denúncias Imagem: AP

Lais Martins e Anthony Boadle

Da Reuters, em Brasília

14/12/2018 19h16

As denúncias contra o médium conhecido mundialmente como João de Deus aumentam a cada dia, e na avaliação de um dos promotores do Ministério Público do Estado de Goiás, que está à frente do caso, se os relatos forem confirmados será o maior escândalo sexual da história do país.

"Caso os relatos se confirmem, eu não tenho dúvidas de que esse seria o maior escândalo que já se teve notícia no Brasil... tenho absoluta certeza", disse o promotor Luciano Meireles à Reuters nesta sexta-feira (14), por telefone.

Segundo Meireles, mais de 30 mulheres já deram seus depoimentos formalmente, mas o número de mensagens recebidas pelo MP de Goiás, que criou um email para receber denúncias de abuso sexual pelo médium, até o momento passa de 300.

João de Deus, que presta atendimentos mediúnicos na Casa Dom Inácio de Loyola desde a década de 1970, está sendo acusado por dezenas de mulheres de assédio e abuso sexual durante seus atendimentos.

Além de mulheres de diversos Estados do Brasil, a força-tarefa já recebeu relatos provenientes de Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Bélgica, Suíça e Bolívia contra o médium de 76 anos, cujo nome verdadeiro é João Teixeira de Faria.

Como o caso ocorre em segredo de Justiça, o teor das denúncias, do pedido de prisão preventiva e números mais precisos não podem ser divulgados pelo MP.

No entanto, o promotor afirmou que, com base nos depoimentos exibidos no programa "Conversa com Bial", da TV Globo, na sexta-feira passada (7), há três possíveis crimes: estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.

As penas podem chegar a até 10 anos, 6 anos e 15 anos, respectivamente.

Se houver uma condenação, as penas poderão ser reduzidas em razão do prazo de prescrição, que cai pela metade para pessoas acima de 70 anos, como é o caso do médium, ponderou o promotor.

Na prática, isso significa que denúncias ocorridas há um tempo que supera o de prescrição não poderão ser usadas para uma condenação, o que não significa, porém, que não sejam necessárias.

"Isso não quer dizer que o depoimento dessas mulheres não seja importante. Servem para embasar os depoimentos que não estão prescritos, serve como elemento de prova, não podem ensejar uma condenação por um novo crime, mas reforçam os crimes eventualmente existentes", pontuou Meireles.

Nesta sexta-feira, a Justiça acatou um pedido de prisão preventiva que havia sido levado por promotores na quarta-feira ao fórum de Abadiânia, pequena cidade de Goiás que abriga o centro espiritual de João de Deus, a cerca de 90 quilômetros de Goiânia.

Forças de segurança cumprem o pedido nesta tarde e até agora João de Deus não foi detido. A defesa do médium disse que entrará com um habeas corpus contra a decisão, o que não exclui a apresentação espontânea de João de Deus.

Na quarta-feira, o médium passou rapidamente pela Casa Dom Inácio de Loyola, onde atende brasileiros e estrangeiros --incluindo personalidades do cinema, artistas e políticos-- que buscam uma cura espiritual para diversos problemas de saúde.