Dólar dispara a nova máxima em 6 meses ante real com pânico de descontrole fiscal
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou contra o real nesta quinta-feira e fechou numa nova máxima em seis meses, depois de chegar a superar os 5,69 reais no pico intradiário, refletindo pânico generalizado dos mercados brasileiros com possível descontrole fiscal após o governo confirmar planos de contornar o teto de gastos para financiar medidas vistas como populistas.
O dólar à vista fechou em alta de 1,90%, a 5,6683 reais na venda, maior patamar para fechamento desde 14 de abril deste ano (5,6699 reais) e sua maior valorização diária desde 8 de setembro (+2,84%).
A moeda norte-americana já começou o dia em disparada depois de, na quarta-feira, após o fechamento do mercado à vista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dito que o governo avaliava pagar o benefício temporário que irá vitaminar o novo Bolsa Família fora do teto de gastos ou optar por mudança na regra constitucional do limite fiscal para acomodá-lo.
Na tarde desta quinta, o relator da PEC dos Precatórios, deputado Hugo Motta, (Republicanos-PB), apresentou novo parecer em que propôs uma modificação do prazo considerado na correção do teto de gastos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida que, segundo ele, abre um espaço adicional de 39 bilhões de reais para despesas em 2022.
Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a sinalização do governo justifica a reação dos mercados: "Qualquer furo do teto representaria uma quebra do que hoje é nossa única âncora fiscal; se houver essa rachadura teremos um cenário inimaginável."
Segundo ela, o mercado teme que os gastos com o auxílio sejam apenas o início de mais uma série de medidas populistas do governo à medida que as eleições de 2022 se aproximam.
"Hoje Bolsonaro já falou em auxílio para caminhoneiros, há pressão muito grande para intervenção nos preços dos combustíveis... É uma série de medidas populistas vinda de um governo que se vendeu como grande defensor das contas públicas."
Em meio ao retorno de ameaças de greve de caminhoneiros em razão da alta dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira que o governo vai oferecer a cerca de 750 mil caminhoneiros autônomos uma ajuda para compensar o aumento do preço do diesel.
O dólar à vista foi às máximas da sessão na esteira de seus comentários, chegando a tocar 5,6911 reais na venda no pico intradiário, alta de 2,3%.
Mesmo em meio à disparada da moeda norte-americana, o Banco Central não anunciou venda líquida de dólares nesta quinta-feira, depois de ter se mostrado ativo no mercado de câmbio nas últimas seis sessões. Um economista de uma grande corretora de investimentos disse que interpretou o "silêncio" da autarquia como uma tentativa de passar uma mensagem para Brasília sobre a urgência de prezar pela responsabilidade fiscal.
Mas Argenta, da CM Capital, discorda. "O Banco Central sabe que não consegue mudar a direção do dólar, apenas amenizar alguns movimentos bruscos pontuais", disse ela, ressaltando que a autarquia não tem a intenção de controlar os patamares da moeda norte-americana. "O BC achou que não era necessário dar liquidez ao mercado."
O golpe nos mercados domésticos nesta quinta-feira foi generalizado. O Ibovespa desabou quase 3% nesta quinta-feira, enquanto os juros futuros dispararam.
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