Raiva contra Macron alimenta apoio à extrema-direita em bastiões de esquerda na França

Por Gabriel Stargardter

LA TRINITE-SUR-MER, França (Reuters) - Florent de Kersauson, um candidato parlamentar francês de extrema-direita, fazia panfletagem na Bretanha quando um aliado ligou para dizer que os repórteres haviam encontrado uma publicação antiga em rede social de teor antissemita feita por um colega de seu partido, o Reunião Nacional (RN), que é candidato por um distrito eleitoral vizinho.

De Kersauson, um dos 27 candidatos que esperam conquistar a primeira cadeira do RN na região historicamente de esquerda, ficou furioso, ciente dos danos que os comentários de Joseph Martin poderiam causar à busca de seu partido pelo poder.

"O que esse idiota estava fazendo ao dizer uma besteira como essa?", disse de Kersauson sobre a publicação de Martin.

Durante décadas, a reputação de antissemitismo, islamofobia e racismo do Reunião Nacional fez com que o partido não fosse uma opção a ser considerada por milhões de eleitores franceses, mas os esforços de Marine Le Pen para desintoxicar o partido que seu pai fundou na década de 1970 sob a bandeira da Frente Nacional aumentaram seu apelo.

As pesquisas de opinião apontam que o RN deve vencer as eleições parlamentares de dois turnos marcados para 30 de junho e 7 de julho, mas sem maioria absoluta. Isso provavelmente forçaria o presidente centrista e pró-União Europeia Emmanuel Macron a dividir o poder com um governo anti-imigração e eurocético.

A raiva dos eleitores em relação ao custo de vida e a Macron fez com que a perspectiva de o RN ganhar cadeiras pela primeira vez na Bretanha parecesse possível. A ascensão do RN em Morbihan, um distrito bretão com círculos de pedra neolíticos populares entre os turistas, reflete uma trajetória nacional.

Na eleição parlamentar de 2022, os candidatos de Macron venceram cinco de seus seis distritos eleitorais. Na votação para o Parlamento Europeu de 2024, o RN obteve 28,57% em Morbihan, abaixo de sua contagem nacional de 31,37%, mas bem acima dos 18,05% que a chapa apoiada por Macron obteve lá.

Os eleitores de La Trinité-sur-Mer, uma bela cidade litorânea de Morbihan onde nasceu o patriarca do RN, Jean-Marie Le Pen, pareceram receptivos à proposta de Kersauson.

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O homem de 74 anos costumava passar o verão com os filhos de Le Pen quando eles visitavam a cidade, e entrou para o RN em 2021 a pedido de Marie Caroline Le Pen, irmã mais velha de Marine Le Pen.

Depois de ter sido condenado por crimes financeiros em dois fundos que administrava e multado em 50.000 euros, de Kersauson ficou em quarto lugar na votação legislativa de 2022, mas agora estava otimista quanto às suas chances.

De Kersauson acredita que Le Pen e o líder do partido, Jordan Bardella, de 28 anos, suavizaram a imagem do RN, e disse estar enojado com o antissemitismo.

Bardella foi rápido em dizer que não apoiava mais a candidatura de Martin -- mas dias depois ele permaneceu na chapa do partido.

Martin disse que sua publicação, noticiada pela primeira vez na semana passada pelo jornal Liberation e amplamente divulgada on-line, foi tirada de contexto e não era antissemita. Ele disse que estava "em pleno modo de campanha" e que esperava vencer.

De Kersauson disse que os eleitores de Morbihan foram motivados por preocupações com o custo de vida e raiva contra o presidente.

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"Não é o que propomos que os traz até nós, é a rejeição... de como Macron trata este país", disse ele.

Macron advertiu na segunda-feira que as políticas de seus oponentes de extrema-direita e de extrema-esquerda poderiam levar a uma "guerra civil". Ele admitiu que sua arriscada convocação de eleições antecipadas poderia sair pela culatra, mas disse que isso era necessário para dar maior clareza à democracia francesa.

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