Parte do Chipre está em luto e outra comemora 50 anos após separação

Por Yiannis Kourtoglou e Michele Kambas

NICÓSIA (Reuters) - Os cipriotas gregos ficaram de luto e os cipriotas turcos se alegraram neste sábado, 50º aniversário da invasão de parte da ilha pela Turquia após um breve golpe de inspiração grega, com as chances de reconciliação mais difíceis do que nunca.

A ilha etnicamente dividida é fonte persistente de tensão entre Grécia e Turquia, ambos membros da OTAN, mas que estão em desacordo em várias questões.

Suas diferenças foram expostas no sábado, com o presidente turco Tayyip Erdogan participando de um desfile militar comemorativo no norte de Nicósia para marcar o dia em 1974 em que as forças turcas lançaram uma ofensiva que eles chamam de "operação de paz".

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, deve participar de um evento no sul de Nicósia para comemorar o que os gregos costumam chamar de "invasão turca bárbara". As sirenes de ataque aéreo soaram em toda a área ao amanhecer.

Mitsotakis publicou uma imagem de um mapa do Chipre manchado de sangue em sua página do LinkedIn com os dizeres "Meio século desde a tragédia nacional do Chipre".

Houve júbilo no norte do país.

"A Operação de Paz do Chipre salvou os cipriotas turcos da crueldade e os trouxe à liberdade", disse Erdogan à multidão que se reuniu para assistir ao desfile, apesar do calor sufocante do meio-dia, criticando o sul por ter uma "mentalidade mimada" e por se ver como o único governante do Chipre.

As negociações de paz estão paralisadas em dois conceitos aparentemente irreconciliáveis - os cipriotas gregos querem a reunificação como uma federação. Os cipriotas turcos querem um acordo entre dois Estados.

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Erdogan deixou aberta uma janela para o diálogo, embora tenha dito que uma solução federal, defendida pelos cipriotas gregos e apoiada pela maioria da comunidade internacional, "não é possível".

"Estamos prontos para negociações, para nos reunirmos e para estabelecer uma paz e uma resolução de longo prazo no Chipre", disse ele.

O Chipre se tornou independente do Reino Unido em 1960, mas uma administração compartilhada entre cipriotas gregos e turcos rapidamente se desfez em meio à violência que levou os cipriotas turcos a se refugiarem em enclaves e ao envio de uma força de manutenção da paz da ONU.

A crise deixou os cipriotas gregos administrando a República do Chipre, reconhecida internacionalmente e membro da União Europeia desde 2004, com o potencial de inviabilizar as aspirações de décadas da Turquia de se juntar ao bloco.

Isso também complica qualquer tentativa de liberar o potencial energético no leste do Mediterrâneo devido à sobreposição de reivindicações. A região tem registrado grandes descobertas de hidrocarbonetos nos últimos anos.

LEMBRANDO OS MORTOS

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Em todo o sul, foram realizados cultos em igrejas para lembrar as mais de 3.000 pessoas que morreram na invasão turca.

Na Turquia, a televisão estatal se concentrou na violência contra os cipriotas turcos antes da invasão, especialmente no derramamento de sangue em 1963-64 e em 1967.

A invasão da Turquia tomou mais de um terço da ilha e expulsou mais de 160.000 cipriotas gregos para o sul.

As negociações para a reunificação fracassaram em 2017 e estão em um impasse desde então. O Chipre do Norte é um estado separatista reconhecido apenas pela Turquia, e sua liderança cipriota turca quer o reconhecimento internacional.

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