Única unidade de queimados do Líbano trata crianças após ataques israelenses

Por Kuba Stezycki e Yara Nardi

BEIRUTE (Reuters) - Envolvida em gaze da cabeça aos dedos dos pés, a menina Ivana Skayki está quase imóvel em uma cama de hospital grande demais para ela. Há semanas, ela vem sendo tratada após queimaduras graves sofridas em ataques israelenses a sua cidade natal, no sul do Líbano.

Ivana, que completa dois anos no próximo mês, sofreu queimaduras em quase 40% do corpo, incluindo metade do rosto, o peito e os dois membros superiores, de acordo com Ziad Sleiman, cirurgião plástico da unidade especializada em queimaduras do Hospital Geitaoui, em Beirute.

A unidade é a única no Líbano equipada para lidar com queimaduras. Em seus corredores ecoam gritos das crianças, enquanto pais ansiosos aguardam notícias dos médicos.

Mohammad, pai de Ivana, disse à Reuters que sua filha sofreu as queimaduras em ataques israelenses quando se preparavam para fugir de sua cidade natal, Al-Aliyah, em 23 de setembro, dia em que Israel aumentou drasticamente seus ataques ao Líbano.

Mais de 550 pessoas foram mortas somente naquele dia, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano.

"Houve um ataque, a casa tremeu -- tudo estava se quebrando, as janelas, o telhado, tudo, a explosão foi na minha casa", lembrou Skayki. "Pensei comigo mesmo: 'pode ser isso, pode ser o fim'."

Israel diz que faz todos os esforços possíveis para evitar vítimas civis e acusa o Hezbollah de deliberadamente colocar bases de seus combatentes em áreas residenciais e usar civis como escudos humanos. O Hezbollah nega a acusação.

A família conseguiu fugir para a cidade portuária de Tyre, no sul do país, onde Ivana recebeu tratamento inicial. Eles se mudaram novamente para outro hospital, mas como não havia um departamento para queimaduras, Ivana recebeu apenas um tratamento parcial antes de chegarem a Beirute.

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Segundo Sleiman, Ivana foi submetida a operações de enxerto de pele e poderia receber alta em alguns dias. Ela ainda tem marcas vermelhas profundas no rosto, onde parte da pele está descamando.

O hospital admitiu oito crianças com queimaduras de terceiro grau em metade de seus corpos e teve de ser seletivo em relação a outros pacientes, disse Sleiman, devido às limitações de espaço.

A unidade de queimados do Hospital Geitaoui tem uma capacidade típica de nove leitos, mas conseguiu aumentar para 25 com a ajuda do Ministério da Saúde para lidar com o fluxo de pacientes, disse o diretor médico do hospital, Naji Abi Rached.

A maioria dos pacientes fica internada por até seis semanas devido à sua condição crítica.

"Às vezes, o resultado não é positivo, devido à extensão das queimaduras", disse Abi Rached.

(Reportagem de Kuba Stezycki e Yara Nardi)

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