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Cultura brasileira é mais valorizada na Europa do que no Brasil, diz fotógrafa italiana que viveu dez anos ao lado de mãe de santo

16/06/2018 23h00

A antropóloga e fotógrafa italiana, Patrizia Giancotti, viveu mais de 10 anos no Brasil colaborando com o escritor Jorge Amado. Ela tem 60 anos e dedica seus estudos aos poderes femininos das sacerdotisas do candomblé da Bahia e das xamãs da Amazônia, comparados aos tempos remotos da mitologia grega.

Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

Para sua pesquisa sobre a mulher do Candomblé, Patrizia morou dez anos na Bahia, onde conviveu com uma mãe de santo. Em 2001, Patrizia recebeu a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul pelos serviços prestados ao Brasil através do seu trabalho cultural. Hoje ela vive na Calábria, no sul da Itália, e é professora na universidade de Milão e na de Reggio Calabria.

Em seus estudos, Patrizia estabelece relações antropológicas entre as mulheres da Grécia antiga e do Brasil. "Gostei muito de trabalhar a ligação entre a mulher amazonense da Grécia antiga, chamade de "Amazones" pelos escritores gregos e latinos. Ou seja, mulheres guerreiras, que, segundo a mitologia, cortavam um seio para lançar a flecha com mais facilidade”, descreve.

Guerreiras mitológicas

Patrizia compara as guerreiras da mitologia grega com as mulheres brasileiras que hoje lutam contra as catástrofes ambientais, como as índias Tuíra do povo Caiapó, e Shirley, do povo Krenak . Ela se lembra de um fato ocorrido em 1989 em Altamira, no Estado do Pará.

Durante uma audiência pública para discutir a construção da Usina Hidroelétrica Kararaô, situada em Belo Monte, às margens do Rio Xingu, Tuíra enfrentou o presidente da Eletronorte, José Muniz Lopes, colocando a lâmina do facão em seu rosto. Shirley Krenak, membro do Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais, já alertava sobre os perigos da construção da barragem da mineradora Samarco em Mariana antes do desastre.

Patrizia acredita que a cultura brasileira é mais valorizada na Europa do que no Brasil. "Existem situações muito graves em relação ao candomblé. Mães de Santo sendo apedrejadas ou índios que sofrem todos os dias discriminações. Essas atividades são reconhecidas como culturais na Europa, o que muitos brasileiros não reconhecem."

Desta forma, faz parte do seu trabalho despertar o interesse dos estudantes italianos na cultura brasileira. "Esta é a minha maneira de contribuir. Temos que fazer o nosso trabalho pelo bem. Tento descrever para os jovens como é a cultura brasileira, falar sobre miscigenação, esse valor de já nascer misturado como povo. Minha exposição, 'Misti si nasce', aborda as pessoas misturadas desde o nascimento", diz.