Festival de fotos de Arles mostra encruzilhadas de Exu
“Exu é o espírito das encruzilhadas, dos câmbios na sua vida, responsável por propor problemas para que a sua vida mude, evolua, e é também o mensageiro entre os homens e os deuses”, explica o carioca Bruno de Morais, que coautor da mostra “À meia noite na encruzilhada”, no Encontros da Fotografia de Arles, no sul da França.
Quem divide os créditos com o brasileiro é a premiada fotógrafa espanhola Cristina de Middel, recentemente “nomeada” da agência Magnum, uma grande honra e porta de entrada para se tornar no futuro um membro efetivo da cooperativa de fotógrafos fundada em 1947 por profissionais como Robert Capa e Henri Cartier Bresson.
Bruno trabalhou na produção de um projeto de Cristina no Rio, sobre a violência nas comunidades. “Eu vinha de uma longa estadia na Nigéria, país que conheço muito bem, pois era curadora do festival Lagos Photo e muito ligada à cena fotográfica de lá. Estive também no Benim com outro projeto e isso me deixou muito interessada nas religiões africanas. No começo era uma curiosidade exótica, diante das lendas e mistérios”, conta a fotógrafa.
“De repente, estávamos conversando sobre orixás e diferentes divindades, e como eram representados na umbanda, que ele conhece muito bem. Então achamos que seria interessante mostrar esses percursos, contar a história de um ângulo não mais gentil, mas menos demoníaco, digamos. Pois há sempre um mistério em volta, mas um geralmente maldoso em torno das religiões africanas, que para mim são muito inspiradoras e belas, com uma relação importante com a natureza. Decidimos encampar o desafio de falar sobre essas crenças, as mudanças que sofreram através das rotas dos escravos”, acrescenta Cristina de Middel.
As portas das encruzilhadas de Exu no Brasil foram abertas por Bruno, iniciado na umbanda, mas a dupla, que também virou um casal, estendeu as pesquisas e as imagens pelo Benim, Cuba e Haiti.
O resultado é uma exposição fascinante, uma viagem espiritual visitando figuras demoníacas/angelicais, vaporosas, sombrias. Em cada país a divindade é a mesma, mas muda de figura, vira criança, vira velho, muda de nome. Mas é sempre o senhor dos caminhos cruzados.
Em Arles, a mostra “À meia noite na encruzilhada” fica em cartaz até dia 23 de setembro.
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