"Livro branco" com detalhamento do Brexit causa protestos, inclusive da City de Londres
A sessão parlamentar foi interrompida por protestos de deputados inconformados por não terem recebido uma cópia do documento detalhado pelo novo ministro do Brexit, Dominic Raab. Vários deputados condenam o projeto da primeira-ministra Theresa May por considerar que ele enfraquece o país e não corresponde ao que a população esperava quando votou no referendo de 2016.
Aprovado inicialmente por todo o governo na última sexta-feira (12), o plano causou a renúncia de dois ministros nesta semana e alimentou o desejo de rebelião dentro da maioria conservadora. Quando o ministro do Brexit, Dominic Raab, tomou a palavra na Câmara dos Comuns, os deputados protestaram em voz alta, forçando o presidente da Câmara a interromper a sessão por alguns minutos. Raab descreveu, então, um plano de governo considerado "inovador".
Londres quer criar uma nova "área de livre comércio para mercadorias", destinada a manter "trocas livres de atritos" dos dois lados do Canal da Mancha. Um "acordo alfandegário simplificado" deve evitar o restabelecimento de uma fronteira problemática entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda", um ponto no qual Bruxelas e Londres estão de acordo.
O setor de serviços será objeto de um novo acordo, oferecendo ao Reino Unido "a liberdade de traçar seu próprio rumo nas áreas mais importantes de sua economia". O governo reconhece, no entanto, que, para os serviços, as novas regras introduziriam "mais barreiras" do que as existentes atualmente e privariam as instituições financeiras de seu "passaporte europeu", o que lhes permite operar livremente no continente.
'Golpe duro', reage a City de Londres
A City de Londres denunciou "um duro golpe" para o centro financeiro britânico. Em comunicado, a porta-voz da Corporação da City, Catherine McGuinness, disse que o plano de May custará milhares de empregos ao setor. Cálculos recentes do Banco da Inglaterra apontaram que entre 5.000 e 10.000 empregos nessa área poderiam migrar para o continente após a conclusão do Brexit, em 2019.
Em relação à circulação de cidadãos, Londres quer desenvolver uma "nova estrutura que respeite os controles de fronteira britânicos, permitindo que as pessoas viajem para seus respectivos países".
O plano propõe uma parceria na área de segurança. O Reino Unido continuará a ser membro das agências Europol e Eurojust e desenvolverá acordos de "coordenação" sobre questões de política externa e de defesa. As missões militares em andamento nos dois lados do Canal da mancha seriam mantidas.
Embora o plano envolva os territórios de ultramar, um porta-voz do governo explicou que o caso de Gibraltar, no sul da península ibérica, exigirá negociações adicionais. Bruxelas concedeu direito de veto a Espanha sobre o acordo final caso Madri não concorde com este ponto.
À margem da cúpula da OTAN em Bruxelas, Theresa May garantiu que estas propostas respondem ao "voto dos britânicos", a favor do Brexit. No texto de introdução do "livro branco", May se defende e afirma que um acordo com os sócios europeus "requer pragmatismo e compromisso de ambas as partes".
"Não estamos garantindo que teremos um relacionamento feito sob medida com a União Europeia", disse o ministro para o Brexit. "É uma proposta confiável. É ousada, ambiciosa, mas também é pragmática", completou Raab, nomeado na última segunda-feira (9) para substituir David Davis, que renunciou.
O negociador-chefe da União Europeia, Michel Barnier, reagiu no Twitter, anunciando que irá analisar a proposta britânica imediatamente. Barnier afirmou ainda estar "ansioso para negociar com o Reino Unido na próxima semana".
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