Franceses são obrigados a cortar milhares de árvores para instalação de fibra ótica
“O que acontece em Corrèze é que o Presidente do Conselho Departamental decidiu meio que sozinho e sem um verdadeiro debate prévio enviar uma carta um pouco ameaçadora a vários milhares de proprietários de terra”, explica Antoine Gatet, jurista especializado em direito ambiental. “Como esse documento estava muito mal escrito e havia uma ameaça, isso provocou um efeito catastrófico. Houve um abatimento massivo de árvores importantes em termos de patrimônio e de biodiversidade nas rodovias da Corrèze.
Anne Ulmet, proprietária de terra no departamento, conta que se revoltou: “Eu e meu marido somos cidadãos muito comuns, mas nos engajamos porque recebemos, assim como 28 mil proprietários de terra, uma carta do presidente do Conselho Departamental. Esse documento era muito, muito agressivo, e nos dizia que se não fizéssemos o que estava sendo pedido, nós seríamos enviados ao tribunal.”
O resultado foi que centenas de pessoas sentiram muito medo e a única solução que encontraram foi cortar as árvores por conta própria. Atualmente, não se sabe o número exato, mas Anne Ulmet afirma que mais de 10 mil árvores foram cortadas em menos de um ano. “Na Corrèze, o ‘país verde’, houve um impacto grande em várias rotas turísticas. Isso será dramático para o turismo nos próximos anos, isso é certo”, lamenta.
Julien Coucaud, comerciante, disse que passou a se interessar pelo debate político diante da devastação florestal que estava ocorrendo. “Sou um amante da natureza e fico muito preocupado com a evolução das coisas e com o impacto em diversos setores da Corrèze que têm relação com as árvores. No meu meio profissional, vários clientes são amigos e decidimos criar um coletivo e partir para a ação, enquanto cidadãos.”
Lei de 2016, que previa proteção ambiental, está sendo desrespeitada
“Sentimos um impacto forte e o desastre continua, temos cortes de árvores regularmente. É por isso que as associações e os criadores de animais se mobilizaram para que isso acabasse”, ressalta Antoine Gatet. “Tivemos uma mudança drástica em certos lugares, com terrenos de árvores muito antigos e patrimoniais que foram destruídos. Incluindo certos espaços naturais sensíveis, onde havia populações de morcegos.”
Para Gatet, o assunto é ainda mais atual porque a lei da biodiversidade, aprovada em 2016, pretendia, justamente, proteger a flora das rodovias. “Agora temos uma decisão do Conselho Departamental que acaba de massacrá-las”, lamenta.
Antoine Gatet lembra que o desastre ambiental na Corrèze é resultado do velho embate entre modernização e desenvolvimento sustentável. “Do meu ponto de vista, temos, de um lado, uma lógica industrial, do outro, uma visão global e simplista. Frente a isso, temos a realidade e a complexidade do terreno, onde vivem pessoas reais que têm dificuldade em compreender as ordens que recebem.”
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