Justiça francesa investiga atos antissemitas em universidade de Paris
“De piadas sobre o holocausto, passaram a inventar jogos, como o frispá [contração das palavras frisbee e kipá, a tradicional touca judaica], que consiste em jogar uma kipá no chão”, diz, sob anonimato, a estudante que está no segundo ano do curso de medicina. Falando à rádio Europe 1, ela contou que toda vez que pedia para que parassem de fazer comentários antissemitas, seus colegas respondiam apenas que ela “não tinha humor”.
Informada da situação no dia 20 de outubro, a universidade se reuniu com a estudante e seus oito colegas denunciados, antes de abrir um processo disciplinar e avisar o procurador da República, obedecendo ao artigo 40 do código penal, que diz que é obrigatório comunicar as autoridades ao ter conhecimento de um crime ou delito.
Humor negro
O jornal Le Monde afirmou que, segundo uma fonte próxima ao caso, os estudantes se defenderam dizendo que, no grupo denunciado, há pessoas de todas as confissões religiosas, inclusive judeus, e que os comentários compartilhados pelo WhatsApp não passam de “humor negro” feito sobre “todas as comunidades”.
“Após reclamar com aqueles que inicialmente eram seus amigos, a jovem passou a sofrer bullying”, afirmou Antonin Péchard, advogado da estudante. A tensão era tanta que ela preferiu não participar do fim de semana de integração organizado pela universidade. “Algumas pessoas fizeram questão de deixar claro que era melhor ela não aparecer”, disse Péchard.
Os comentários antissemitas nas redes sociais sobre esse evento foram “a gota d’água que fizeram transbordar o vaso” para a estudante, que denunciou oficialmente os jovens à justiça poucos dias depois. Le Monde, que teve acesso à página do Facebook sobre o encontro estudantil, disse que os jovens conversavam sobre que tipo de fantasia usariam no evento, usando hashtags como “#Auschwitz2019”, “#Batidasnazistas, e até “#[sobrenome da estudante] 2019”.
Banalização do discurso de ódio
“Houve uma banalização dos comentários antissemitas e racistas, o que é intolerável”, afirmou o presidente da universidade Paris-XIII, Jean-Pierre Astruc, que ressaltou que isso é a primeira vez que isso acontece dentro de seu estabelecimento. “Esses estudantes parecem não ter noção da gravidade de seus atos no mundo virtual”, completou.
“Nós vamos rapidamente organizar palestras para sensibilizar toda a comunidade acadêmica sobre a questão”, afirmou Astruc, que conta com dois profissionais que trabalham exclusivamente em ações para evitar o racismo e o antissemitismo na universidade.
Para Sacha Ghozlan, representante da União de estudantes judeus da França, que acompanhou a universitária desde o primeiro dia da denúncia, “além deste caso muito grave, constatamos que a universidade não é mais uma barreira contra o ódio”, lamentou. “Esses fatos precisam fazer com que as pessoas se conscientizem da importância de lutar contra esses discursos”, ressaltou.
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