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Maestro carioca dirige orquestra para filmes de cinema mudo em Berlim

30/12/2018 00h00

Reger uma orquestra acompanhando grandes clássicos do cinema mudo. Esse é o trabalho do maestro brasileiro Marcelo Falcão. O carioca de 35 anos se apresenta a partir de janeiro em Berlim dirigindo a Babylon Orchester Berlin.

Reger uma orquestra acompanhando grandes clássicos do cinema mudo. Esse é o trabalho do maestro brasileiro Marcelo Falcão.

A orquestra, com cerca de 20 músicos, acaba de ser formada como um grupo musical permanente para as sessões especiais de cinema do Babylon, um teatro tradicional cinematográfico inaugurado em 1929 no centro da capital alemã. Hoje totalmente reformado, o Babylon comemora no ano que vem seus 90 anos exibindo o brilho original da época.

A estreia da orquestra, no dia 4 de janeiro, será com Metrópolis, obra-prima de Fritz Lang. A programação prevê outras pérolas do cinema mudo, como Nosferatu, de Friedrich Murnau, e Berlim, sinfonia de uma grande cidade, de Walter Ruttmann, entre outros.

Marcelo se diz honrado em se apresentar para um público tão exigente, como o alemão. “Com certeza, é uma honra você estar aqui em Berlim, podendo fazer esses filmes todos para a plateia alemã, para a plateia berlinense, que não é uma plateia simples, digamos assim”, diz.

Ele conta que um dos ensaios abertos ao público contou com a presença de membros da família dos artistas da época. “Em novembro, a neta do ator que fez o Thomas Hutter, o mocinho do Nosferatu, foi assistir.”

Já no dia 29 de janeiro, quem estará presente numa das seções é Nicola Lubitsh, filha do lendário diretor alemão Ernst Lubitsch. Ela vai prestigiar a apresentação da orquestra junto com a projeção de Rosita, de 1923, primeiro filme do pai dela produzido em Hollywood.

Concentração especial

O maestro conta que dirigir uma orquestra para acompanhar uma obra do cinema mudo requer uma concentração especial, algo muito diferente de reger uma peça sinfônica tradicional ou numa ópera.

“Tem que estar muito atento, muito seguro, para saber as cenas, onde acaba, onde começa uma cena nova, para tentar colocar as ambientações corretas nas cenas”, ressalta. “Claro que com filmes da década de 20 não dá para fazer uma sincronização hollywoodiana da música, como nos filmes de Tom e Jerry, por exemplo”, frisa. “É uma música que está ali por trás do que está acontecendo. Mas você tem o compromisso de aquilo ilustrar o que está acontecendo e também levar o público para aquele tipo de atmosfera.”

As sessões de cinema mudo acompanhadas por orquestra no Babylon são realizadas, quando possível, com as trilhas sonoras originais. O maestro brasileiro explica que isso é uma dificuldade a mais, que requer uma espécie de arqueologia musical. Muitas partituras e trechos de filmes se perderam ao longo do tempo.

“No Nosferatu, por exemplo, não conseguimos a orquestra completa, conseguimos boa parte do material, mas não tudo”, pondera. “Das quatro trompas, por exemplo, só tínhamos o material de duas. Pegamos dicas em um lugar ou outro para reconstruir a música original”, lembra.

Já no caso de Metrópolis, Marcelo lembra que os obstáculos foram outros. “A partitura dos instrumentos é completa, mas o filme se perdeu no meio do caminho. Em 2008 descobriram também um material novo na Argentina, com mais meia hora de filme”, explica. “Vamos apresentar essa versão do Metrópolis, com meia hora adicional de filme. Depois de lançarem a versão nova, pediram para um arranjador mais meia hora de música, o que foi feito usando os temas já existentes.”

Esse trabalho todo pode ser conferido a partir 4 de janeiro no cinema Babylon. Mas quem quiser, tem que se apressar. Os ingressos para as primeiras sessões de Metrópolis já estão quase esgotados.