Relatório diz que cocaína não é mais droga exclusiva dos mais ricos
A capa do jornal La Croix desta quarta-feira (30) destaca o consumo da cocaína na França, que se espalha por todas classes sociais. O número de usuários é hoje quatro vezes maior do que no início dos anos 2000. "Pescadores, cuidadores, garçons...a cocaína está em todo lugar", diz o título da matéria do La Croix. A publicação lembra que a "farinha", antes reservada apenas para a elite, está agora espalhada por toda a sociedade.
A capa do jornal La Croix desta quarta-feira (30) destaca o consumo da cocaína na França, que se espalha por todas classes sociais. O número de usuários é hoje quatro vezes maior do que no início dos anos 2000. “Pescadores, cuidadores, garçons...a cocaína está em todo lugar”, diz o título da matéria do La Croix. A publicação lembra que a “farinha”, antes reservada apenas para a elite, está agora espalhada por toda a sociedade.
O observatório francês de drogas e toxicomanias (OFDT), em seu último relatório, mostra que o consumo foi multiplicado por quatro nos últimos 10 anos. O estudo diz que 5,6% dos franceses experimentaram a cocaína pelo menos uma vez na vida. O observatório analisou o consumo por profissões, e os dados derrubaram algumas ideias preconcebidas. Profissões liberais, como artesãos e comerciantes, são os que mais consumiram a droga (7,2%), e operários chegaram na frente de executivos (5,3% contra 4,95).
O jornal conversou com um pescador da Bretanha, Yann, que aos cinquenta anos, fuma maconha e usa cocaína com frequência. “Com 4 carreiras, vou mais rápido que uma máquina na hora de limpar os peixes”, afirma Yann. A publicação descreve a dificuldade da profissão, com a baixa remuneração, os perigos de se ferir durante a pesca e o tempo de trabalho. O pescador conta ter passado mais de 96 horas trabalhando direto. “Você acaba tendo a impressão de que o motor do barco está cantando músicas”, brinca Yann. As dores no corpo, ele também resolve com a cocaína: “Com duas carreiras, logo cedo, a dor some”.
Uso da cocaína está cada vez mais banalizado
La Croix destaca também a forma como o uso da droga “está mais banalizado, desinibido e feito à vista de todos”, segundo o OFDT. “Parecia algo tão normal”, diz Sarah, de 27 anos, que trabalha como garçonete em Paris. “Junto com umas dez pessoas da equipe, dividíamos as gorjetas para comprar a cocaína”, conta a parisiense.
Sarah conta que passou a usar a droga com uma frequência cada vez maior. Antes usada somente após a jornada de trabalho, a cocaína passou a ser consumida durante o serviço. “O trabalho era estressante. Eu tinha que atender mais de 40 mesas. Assim que eu cheirava um pouco, eu passava a ter a impressão que todos os pedidos fluíam pelo meu cérebro”, conta a garçonete.
Descida ao inferno
O consumo exagerado, fez a jovem entrar em parafuso. Sem conseguir dormir, passou a precisar de uma dose para aguentar o trabalho. Toda vez que o efeito da droga terminava, ela perdia o controle, brigava com clientes, e acabou sendo demitida. Passou a se prostituir para conseguir comprar a droga. Hoje, após muito sacrifício, ela conseguiu se livrar do vício e frequenta as reuniões dos Narcóticos Anônimos, relata La Croix.
O jornal destaca que pouco se faz para reduzir o consumo no mundo do trabalho. Algumas empresas colocam medidas de controle, como testes de urina, que na prática não têm muito resultado. O pescador Yann conta que já entregou a urina de amigos e até da própria esposa.
A publicação finaliza a matéria com os dados de 2018, segundo os quais 2,8% dos jovens de 18-25 anos e 3,4% dos de 26-34 anos consumiram cocaína. O preço diminuiu, passando de € 150 o grama, no final dos anos 1990, a € 85 atualmente.
Em 2016, a cocaína estava envolvida em 18% das mortes por overdose, contra 11% em 2011.
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