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América Latina não tem meios para isolar casos de covid-19, diz virologista

Brasil confirmou hoje o primeiro caso de coronavírus na América Latina - NELSON ALMEIDA/AFP
Brasil confirmou hoje o primeiro caso de coronavírus na América Latina Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP

26/02/2020 18h30

O novo coronavírus Covid-19, que surgiu em dezembro na China, continua se propagando mundialmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o mundo não está preparado para enfrentar a epidemia.

Na América Latina faltam meios para isolar corretamente os pacientes, explica à RFI Daniel Scott, virologista do Instituto Pasteur de Paris. A doença chegou ao subcontinente pelo Brasil que confirmou hoje o primeiro caso de Covid-19.

RFI: A França está preparada para enfrentar este problema de saúde pública?

Daniel Scott: Acredito que sim. Temos que lembrar que as medidas adotadas agora contra o coronavírus são as mesmas que para o H5N1, o vírus da gripe. Isto significa que os meios sanitários e hospitalares são quase idênticos. A França já está preparada há anos para as epidemias de gripe e acredito que não haverá nenhum problema agora.

RFI: Como o senhor analisa a recente declaração da OMS de que o mundo não está preparado para enfrentar esta epidemia?

Daniel Scott: Penso que esta afirmação se refere às condições de receber os pacientes e confiná-los para evitar novas contaminações. Como sabemos, os infectados precisam ficar isolados em um hospital ou em casa, onde não tenham nenhum contato com o exterior. Se falarmos do setor hospitalar, não existe no mundo inteiro condições para o tipo de quarentena que exige esta doença. É necessária uma infraestrutura importante. Os países desenvolvidos, europeus ou da América do Norte, estão equipados há muitos anos para receber este tipo de pacientes. Mas este não é o caso dos países do sul. Confirmamos isto com a epidemia de gripe H5N1 no México, onde faltam meios para isolar corretamente os doentes.

RFI: É verdade que as crianças têm mais resistências ao coronavírus?

Daniel Scott: Esta é uma dedução que está sendo feita diante dos poucos casos de infecção em crianças e adolescentes. Isto quer dizer que eles têm, provavelmente, um sistema de defesa diferente das pessoas mais velhas. Se vê a mesma coisa com a gripe. As pessoas mais afetadas são aquelas que já têm uma doença anterior, como diabetes, doenças cardiovasculares, ou idosas que são mais sensíveis às infecções virais.

RFI: O que significa uma pandemia?

Daniel Scott: Em medicina e epidemiologia, temos três classificações: endemia, epidemia e pandemia. A primeira indica enfermidades que circulam constantemente, como Zika, Chikungunya. Numa endemia, mesmo quando não se tem notícias na mídia, há casos ocorrendo. Quando há o aumento da porcentagem de casos em uma certa população, fala-se em epidemia, como ocorre agora com a dengue no Peru. Pandemia é quando a doença é registrada em todas as partes do mundo e com um nível elevado de contaminação. Poderíamos falar de pandemia do coronavírus porque há casos não somente na Ásia, mas também na Europa e na América.

RFI: Mas a OMS hesita em utilizar esta terminologia?

Daniel Scott: Sim, porque embora haja mais de 200 casos na Itália, ainda não chegamos a um patamar que nos permita falar de epidemia no país. Na China há uma epidemia e Japão poderia alcançar o mesmo nível. Mas para falar de pandemia, teríamos que ter muito mais casos em todas as partes do mundo.

RFI: O número de contaminações na China parece se estabilizar. Isto significa que o pico da epidemia foi atingido?

Daniel Scott: Não diria isto. O que vemos é que as medidas sanitárias adotadas estão surtindo efeito e evitando novas contaminações. Do ponto de vista epidemiológico isto é importante porque indica que todas as medidas tomadas são decisivas para o controle de novas infecções.

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