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Portugal fecha fronteiras durante a Páscoa para evitar nova onda de contágio

10/04/2020 08h46

Durante o feriado de Páscoa, Portugal tenta evitar uma nova onda de contágio fechando fronteiras e contendo a movimentação dos 5 milhões de portugueses que vivem no exterior. Este ano, não haverá procissões, missas nem reunião familiar devido ao coronavírus. As medidas do governo foram reforçadas para o período entre 9 e 13 de abril. 
 

Marie-Line Darcy, correspondente da RFI em Portugal

No norte e no centro de Portugal, as tradições da Páscoa ainda estão vivas. Sem atingir a mesma proporção dos desfiles de penitentes nas ruas da vizinha Espanha, os habitantes dos bairros e aldeias continuam a dar vida aos rituais cristãos.

Alguns pegam emprestado rituais das tradições pagãs, como a procissão chamada "pinha de fogo" na vila de Barroca, perto de Fundão, na Serra da Estrela. Os pastores trazem de volta galhos de pinheiro da montanha Gardunha, que são abençoados durante uma missa e depois queimados no final da Via Sacra, na aldeia montanhosa.

Em outros lugares, acontece a "recomendação de almas" na Sexta-feira Santa. Mulheres vestidas de preto cantam de porta em porta, na encruzilhada e depois na frente das capelas que alinham as aldeias. Elas cantam uma melodia na qual a morte tem o papel principal.

Este ano, a Covid-19 varreu a Páscoa do cartão festivo: sem procissões, sem missas e sem reunião de famílias. O vilarejo de Queirã, perto de Vouzela (região de Braga, no noroeste) viverá dias silenciosos e isolados. "Minha mãe canta no coral. Ela participa das celebrações. Este ano não será possível. E não vou ver minha mãe ", lamenta Rosa Marques, que vive em Baden, perto de Zurique, na Suíça.

Ela deveria viajar na quinta-feira (9 ) com o filho para se juntar ao marido que já estava lá. "Tudo parou. Planejávamos uma parada em Agen, para ver meu outro filho, e chegaríamos descansados para a Páscoa. Mas não vamos mais viajar", lamenta.

A voz de Rosa treme de emoção com a menção de férias perdidas e reuniões familiares impossíveis. Ela fala sobre o pai com câncer avançado e o marido, que chegou em 16 de março, dois dias antes da prorrogação do estado de emergência. Rosa tem medo de nunca mais vê-los.

Diáspora portuguesa

Portugal teme uma segunda onda de contágio, com a chegada de emigrantes ou expatriados que tradicionalmente passam a Páscoa com suas famílias "em suas terras". A expressão é um pouco pomposa, mas reflete o apego visceral da diáspora portuguesa por seu pedaço de terra, a casa dos pais ou tios, às vezes deles. As ligações aumentaram nas últimas semanas para impedir que eles venham e tragam o coronavírus.

A imprensa local está cheia de exemplos de "estrangeiros" (portugueses que vivem no exterior) que conseguiram entrar em Portugal fugindo do aperto de medidas no resto da Europa. Eles às vezes adotam comportamentos perigosos. Como um homem que chegou da França em meados de março, diagnosticado como positivo, assim como sua mãe, e fugiu depois de ter sido forçado a se confinar pela primeira vez, conforme previsto no decreto-lei do Estado de emergência.

Este caso extremo obviamente não é representativo da atitude geral dos portugueses que vivem no exterior. "Estamos terrivelmente decepcionados. Deveríamos partir para Portugal. Mas estou grávida, não há como arriscar. É muito difícil, mas temos que seguir as regras", diz, emocionada, Marina Gonçalinho, que vive em Heiden, no cantão suíço de Appenzell Rhodes.

Confinamento pascal

As autoridades portuguesas, que apostam desde 12 de março em um confinamento autogerido e autorregulado, com limitações parciais para maiores de 70 anos e para aqueles diagnosticados como positivos, isolados em casa em 85% dos casos, reforçaram as medidas para o período de 9 a 13 de abril.

Aeroportos fechados, fronteiras espanholas sob vigilância rigorosa, proibição de deixar os municípios. Cerca de 35 mil policiais estão mobilizados e podem impor quarentena, se necessário. Em vez das celebrações da Páscoa, as cidades do interior de Portugal criaram centros de isolamento para lidar com qualquer eventualidade.

A diáspora portuguesa é composta por cerca de 5 milhões de pessoas, com uma população total de 10,3 milhões. Esses emigrantes econômicos estão principalmente na França, Luxemburgo, Reino Unido e Suíça, onde constituem a terceira comunidade estrangeira.

Em Portugal, a estratégia é de prevenção ativa, fala-se da "Batalha de abril" para enfrentar um pico de infecção até maio. Na Suíça, entre tristeza e resignação, Rosa se descreve como prisioneira. "Se durar muito tempo, eu vou fugir".