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Governo espanhol ameaça intervir em Madri diante do avanço "descontrolado" da Covid-19

28/09/2020 12h24

O governo da Espanha ameaçou nesta segunda-feira (28) fazer "o que for preciso" se o executivo de Madri não tomar medidas firmes para conter o avanço descontrolado da Covid-19 na capital, epicentro do surto no país.

Se o governo regional de Madri, dirigido pelos conservadores, não retificar e endurecer sua estratégia contra o vírus, "não há dúvidas de que (o governo central) está preparado para fazer o que for preciso", alertou o ministro da Justiça, Juan Carlos Campo, em entrevista à rádio pública RNE.

A ameaça faz parte de uma estratégia de pressão total lançada no final da semana passada pelo governo do presidente socialista, Pedro Sánchez. O objetivo é forçar uma reação das autoridades madrilenhas, que assim como em outras regiões autônomas da Espanha, é a única competente na área da saúde.

A incidência do vírus é de 722 casos por cada 100.000 habitantes, o dobro de toda a Espanha - o país da União Europeia com o pior índice. As autoridades sanitárias consideram que a epidemia ainda está sob controle relativo se esse patamar não ultrapassar 50 casos para cada 100.000 habitantes.

O governo regional de Madri impôs há uma semana medidas de circulação restritivas nas áreas mais afetadas. Nesta segunda-feira, essas restrições - que impedem as pessoas de saírem de seus bairros, exceto para trabalhar ou ir ao médico - foram ampliadas para pouco mais de 1 milhão dos 6,6 milhões de habitantes da região. Elas são consideradas insuficientes pelo governo central, que exige a limitação dos movimentos em toda a capital (mais de 3 milhões de habitantes) e outras áreas com alta incidência do vírus na região de Madri.

A área da capital concentra um terço dos casos confirmados e mortes de toda Espanha na pandemia (716.481 casos e 31.232 óbitos). O governo pretende reduzir ainda mais a capacidade de bares e restaurantes. Na semana passada, Madri solicitou apoio "urgente" dos militares para fazer testes e trabalhos de limpeza diante da nova onda de Covid-19. 

Durante a primeira onda da pandemia, que atingiu duramente a Espanha, o Exército fez em todo o país trabalhos de apoio e desinfecção. O governo regional também solicitará ao Executivo central que facilite a recontratação de 300 médicos estrangeiros "que estiveram trabalhando durante a primeira onda da pandemia em Madri".

Desgaste político

Se o governo central não der o braço a torcer, o Executivo central tem instrumentos legais para agir, adotando medidas em "situações de necessidade urgente" ou até mesmo declarar um estado de alarme em Madri. Isso permitiria que Executivo nacional assumisse o controle em matéria de saúde. Também é possível aplicar um artigo da Constituição que permite suspender a autonomia regional, como foi feito com a Catalunha após a declaração de independência frustrada em 2017.

(Com informações da AFP)