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Armênios se sentem traídos após acordo de cessar-fogo com Azerbaijão

10/11/2020 12h34

O acordo entre o Azerbaijão e a Armênia foi assinado com a mediação da Rússia. O cessar-fogo entrou em vigor na noite dessa segunda-feira (9) e interrompe um período de seis semanas de violentos combates no enclave separatista de Nagorno Karabakh. A Rússia enviará quase 2.000 soldados da paz à região. Os armênios saíram às ruas para protestar contra o pacto que faz concessões ao Azerbaijão.

Com informações da enviada especial Anissa el-Jabri e do correspondente regional da RFI, Régis Genté

O acordo foi assinado pelo presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, pelo primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, e pelo presidente russo Vladimir Putin. "Anunciamos o fim de todas as ações militares na zona de conflito de Nagorno Karabakh a partir da zero hora de 10 de novembro, horário de Moscou", informou Vladimir Putin em um comunicado à imprensa.

O texto não prevê apenas o fim das hostilidades iniciadas em 27 de setembro. Ele também estabelece as bases para uma solução política do conflito. O contingente de cerca de 2.000 russos, soldados e guardas de fronteira, armados e equipados com veículos, vai garantir o cessar-fogo ao longo da linha de contato, o chamado corredor de Lachin, que liga a Armênia ao enclave separatista no Azerbaijão, e também fiscalizar a retirada das forças armênias.

Os soldados russos deverão permanecer presentes por cinco anos, com a possibilidade de renovação do mandato por mais cinco anos. Na noite de segunda-feira, já circulavam nas redes sociais vídeos mostrando os soldados russos embarcando em aviões rumo a Nagorno Karabakh.

Azerbaijão recupera territórios

Segundo o pacto, o corredor de Lachin deve retornar ao Azerbaijão. Uma nova estrada será construída nos próximos três anos para permitir o tráfego entre Stepanakert, a capital de Nagorno Karabakh, e a Armênia. Os territórios azerbaijanos anexados pelas forças armênias, assim como parte do enclave, deverão ser devolvidos ao Azerbaijão. Em alguns deles, os moradores armênios terão apenas cinco dias para abandonar os locais.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pachinyan, que foi o primeiro a anunciar o acordo, lamentou em uma declaração, postada em sua conta no Facebook, uma "decisão muito dolorosa para mim e nosso povo". Ele escreveu que essa "não é uma vitória, mas não há derrota enquanto não nos considerarmos derrotados". Para Pachinyan, a trégua "deve marcar o início de uma nova era para a unidade nacional ".

Já o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, festejou o acordo como uma "rendição" da Armênia. "Nós forçamos (o primeiro-ministro armênio) a assinar o documento, isso equivale a uma capitulação", disse Aliyev em um discurso na televisão. "Eu disse que íamos expulsar (os armênios) de nossas terras como cães, e foi o que fizemos."

O acordo de cessar-fogo ocorreu em um momento em que as forças azerbaijanas continuavam a avançar no enclave, povoado majoritariamente por armênios. Baku afirmou no domingo (8) que assumiu o controle da estratégica cidade de Shusha, localizada na estrada principal que liga a autoproclamada república à Armênia. Nikol Pachinyan negou essa informação.

Protestos nas ruas de Yerevan

Assim que o acordo foi anunciado, uma multidão de manifestantes revoltados se reuniu perto da sede do governo armênio, na capital Yerevan. Centenas deles entraram em prédios oficiais, quebrando janelas e saqueando escritórios, incluindo a sala do conselho de ministros.

As cenas se repetiram no prédio do Parlamento e o presidente da casa foi acossado. "Centenas e provavelmente milhares de nossos jovens morreram neste conflito desde 27 de setembro, data do início das hostilidades. E agora, entregamos nossas armas e abandonamos parte do nosso território", diziam os manifestantes armênios.

"O primeiro-ministro nos vendeu. Nikol Pachinyan vendeu a Armênia, ele é um traidor. É o primeiro traidor do país. Aguardamos explicações, procuramos por ele, e ele não está mais aqui, é uma pena!", completaram.