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Pandemia diminuiu preconceito dos cursos de pós-graduação online

19/12/2020 12h33

Os cursos online, dentre eles os de pós-graduação, já existiam antes da pandemia de Covid-19, mas a aceitação de um diploma recebido com aulas 100% via internet agora chega a outro patamar. Se antes mestrados e doutorados à distância eram vistos com algum tipo de receio, como de 'segunda linha', na era na qual o home-office virou realidade para boa parte do mundo, não há mais espaço para esse tipo de preconceito.

Essa é a constatação de Alfredo Freitas, diretor de ensino e tecnologia da Ambra University, universidade que forma, em português, mestres e doutores nos Estados Unidos, em cursos via internet.

"Empresas que estão vivendo esse mundo também estão vendo que é possível trabalhar de casa e estudar de casa com flexibilidade. Elas estão vendo os seus profissionais (...) fazendo cursos de mestrado, estudando de casa".

De acordo com Freitas, nos Estados Unidos existem dezenas de milhares de cursos de pós-graduação online, dentre eles mestrados, doutorados e pós-doutorados renomados. Esses cursos - completamente virtuais - começaram em solo norte-americano na década de 1980 e já abrigavam pelo menos 20% do total de alunos de pós-graduação antes de março de 2020. Durante a pandemia, quase 100% foram para o universo virtual, com raras exceções de programas que ainda exigem atendimento presencial, que envolvem pesquisas em laboratórios ou em campo.

Há uma década, Freitas está à frente da direção de uma universidade sediada em Orlando, na Flórida, que tem apenas campus virtual e ministra cursos 100% em português. Antes da pandemia, segundo ele, ainda havia insegurança na busca pelas pós-graduações à distância, principalmente pelo receio de como seriam vistas pelos empregadores no currículo, apesar de pesquisas mostrarem a eficácia do ensino à distância.

"Falando de dados de 2017 e 2018, 87% das pessoas que faziam cursos via internet, e já tinham estudado no presencial, entendiam que a qualidade do ensino era igual ou superior ao presencial. Quando nós olhávamos para mestrados, as pesquisas indicavam que mais de 40% entendiam que a qualidade do ensino que elas tiveram via internet era superior ao do presencial. Então, quando as pessoas vivenciam isso em uma instituição séria, elas percebiam que o curso é bom. Isso não quer dizer que o ensino via internet seja melhor do que o presencial; quer dizer que é possível termos ensino tão bom via internet quanto no presencial. Assim como temos cursos ruins presenciais, temos também ruins via internet."

Como passar a peneira

Se você também quebrou esse preconceito e quer investir nas graduações ou pós diretamente no conforto do seu lar, o mundo se abre em infinitas possibilidades. Claro que é preciso pagar, na maioria das vezes bem caro por isso ou ir em busca de financiamento e bolsas. Cada instituição tem suas regras e preços. Mas é incontestável como o acesso a professores e pensadores ficou mais democrático. Quem nunca saiu do país pode ter um diploma internacional e conseguir inclusive formação para trabalhar para empresas estrangeiras.

O mundo virtual é infinito e exige atenção na hora de escolher o que melhor se encaixa nas expectativas, no currículo e no bolso. Mais importante do que o renome da instituição e dos professores, Freitas destaca que na hora de procurar uma pós-graduação online é preciso levar em conta o acesso aos docentes. É preciso existir troca de ideias e contato, senão vira apenas palestra.

"Eu penso que existe uma regra de ouro simples: se você vai fazer um curso de ciência da informação, a essência da formação está no 'feedback', no contato dos professores com o grupo de estudantes. Se o professor não fala com você, esse curso é ruim e aí não importa se é na Alemanha, na França, nos Estados Unidos ou no Brasil. (...) A segunda avaliação a ser feita é o processo de relacionamento entre o aluno, os professores e instituição."

A pandemia trouxe o fim do preconceito e abriu um mundo de possibilidades. Escancarou também como as diferenças sociais e de acesso - básico - podem aumentar a distância entre as pessoas e as oportunidades do mercado de trabalho.

"Quando a gente compara o Brasil com os Estados Unidos, nós temos um custo de acesso à internet muito alto para o brasileiro", lamenta Freitas. "Para os brasileiros, as coisas custam muito mais caro. Nós temos muita regulação que dificulta para pequenos provedores de internet resolverem os problemas de pequenas localidades. Mas uma pessoa do interior do Maranhão pode ter acesso a um ensino de São Paulo, Brasília e dos Estados Unidos. Mais ainda: ela poderá trabalhar em empresas dessas cidades. Aí começa a ficar super interessante, porque a pessoa poderá morar no interior do Maranhão e trabalhar com empresas de outros lugares."