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Covid-19: O que se sabe sobre a nova cepa de coronavírus da África do Sul

24/12/2020 12h13

Após a nova linhagem do coronavírus descoberta no Reino Unido na semana passada isolar a ilha britânica de boa parte da Europa, uma mutação originária da África do Sul inquieta os cientistas. Até o momento, os pesquisadores consideram que as duas linhagens não têm relação uma com a outra, mas as duas teriam alterações que aumentam a capacidade de transmissão do vírus.

Jean-Jacques Cornish, da RFI em Pretória.

Uma nova cepa de Covid-19 originária da África do Sul causa tanta preocupação quanto a variante britânica que isolou o Reino Unido. Na quarta (23), Londres anunciou ter identificado dois casos dessa variante "altamente preocupante" por ser "mais contagiosa" no Reino Unido, anunciando a implementação "imediata" de restrições a viagens originárias do país africano.

A nova variante do coronavírus detectada na África do Sul parece ser transmitida mais rapidamente do que as cepas mais antigas, dizem os pesquisadores que a identificaram na África do Sul.

Quando foi descoberta a nova variante ?

Em outubro, essa variante já havia sido identificada nas análises feitas em uma universidade da África do Sul. A  mutação chamada Sars-Covid-501v2 aos poucos foi ampliando sua presença entre os casos infectados.

"Ela começou a dominar muito rapidamente as amostras que nós sequenciamos", explicou o virólogo brasileiro Tulio de Oliveira, chefe do laboratório Kwazulu-Natal Research Innovation and Sequencing Platform (Krisp) em uma entrevista ao jornal Le Monde. Em meados de novembro, a nova variante já representava cerca de 90 % dos genomas sequenciados neste laboratório.

A mutação foi identificada primeiramente na província do Cabo Oriental, mas desde então mudou-se ao longo da costa para o Cabo Ocidental e para cima, até KwaZulu Natal. A pandemia da Covid está crescendo exponencialmente nas três províncias.

No dia 18 de dezembro, o ministério da saúde da África do Sul alertou para a existência de uma variante do vírus Covid-19 que parece ser mais contagiosa do que o patógeno original. A informação foi repassada à OMS (Organização Mundial de Saúde).

No dia 23, o Reino Unido identificou a variante do vírus em dois pacientes em seu território, e anunciou o fechamento das fronteiras com o país africano.

Mais contagiosa?

Desde a descoberta do novo coronavírus, uma grande quantidade de cepas foi encontrada devido a sua importante capacidade de mutação. As mutações são parte do processo evolutivo dos vírus. No entanto, a rapidez com a qual a mutação "501.v2" se expandiu dentro das amostras analisadas causou preocupação e levanta a hipótese de que esta variante seja mais contagiosa do que outras.

Na quarta-feira, o ministro da Saúde da África do Sul anunciou mais de 14.000 novos casos identificados em 24 horas, enquanto esses números oscilavam entre 8.000 e 10.000 novas infecções diárias, nos últimos dias.

Isso significa um perigo maior?

A nova variante tem afetado uma população mais jovem e sem comorbidades no país africano. Oliveira, contudo, afirma que até o momento nada indica que a variante seja mais perigosa do que as outras presentes em todo o mundo.

Na África do Sul, a mortalidade da primeira onda de casos de Covid-19 e da segunda onda, dominada pela nova variante, são comparáveis, destacou o professor Salim Abdool Karim, em entrevista ao jornal Le Monde. "É uma comparação imperfeita e os dados são realmente preliminares, mas até agora, eles não dão sinais alarmantes."

A África do Sul é de longe o país mais afetado do continente africano pelo coronavírus, com 950.000 pessoas com teste positivo, incluindo 25.657 mortos.