Topo

Terra Santa celebra Natal com poucos peregrinos

25/12/2020 07h13

Na Terra Santa, o Natal de 2020 está sendo um dos mais estranhos da História. No ano do coronavírus, quase não há peregrinos e turistas nos locais sagrados. Pelas ruas de cidades como Belém, Nazaré e Jerusalém, os tradicionais festejos e celebrações dos feriados de fim de ano acontecem com número limitado de pessoas.

Daniela Kresch, correspondente da RFI em Israel

Na Terra Santa, o Natal de 2020 está sendo um dos mais estranhos da História. No ano do coronavírus, quase não há peregrinos e turistas nos locais sagrados. Pelas ruas de cidades como Belém, Nazaré e Jerusalém, os tradicionais festejos e celebrações dos feriados de fim de ano acontecem com número limitado de pessoas.

Este ano, não há milhares de peregrinos cristãos na Igreja da Natividade, multidões de fiéis em mercados natalinos ou hordas de turistas tirando selfies em frente à árvores de Natal da Praça da Manjedoura. As Igrejas do Santo Sepulcro e da Anunciação estão praticamente vazias.

Na noite desta quinta-feira (24), as famílias cristãs da região realizaram ceias de Natal apenas com os membros mais próximos, sem grandes festas com parentes distantes.

No começo de dezembro, o Patriarca Latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, já havia dito aos fiéis que o Natal de 2020 seria "menos festivo". Porém, afirmou que nada impediria os cristãos de "expressar o verdadeiro significado do Natal", que, segundo ele, é "fazer um ato de amor".

Procissão reduzida

Oficialmente, as celebrações de Natal não foram canceladas e as autoridades religiosas e políticas locais deixaram isso bem claro. Em Belém, as principais celebrações da véspera de Natal foram realizadas, como a procissão da visita do Patriarca Latino de Jerusalém a Belém. A maior diferença foi a participação popular. Só alguns clérigos e as bandas de grupos de escoteiros locais tiveram permissão para acompanhar a procissão de alguns quilômetros que levou Pierbattista Pizzaballa até a Igreja da Natividade.

O clima frio e chuvoso contribuiu para a atmosfera sombria e apenas algumas dezenas de pessoas se reuniram na praça central da Manjedoura para saudar o patriarca. Pizzaballa disse que, "apesar das restrições e limitações", a ideia é "celebrar o Natal ao máximo possível, com família, comunidade e alegria".

À meia-noite, o patriarca liderou uma pequena missa na Igreja da Natividade, que foi transmitida ao vivo em redes sociais. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que tem 85 anos de idade, não compareceu à missa, como faz todos os anos há uma década e meia.

O cientista político Wadie Abunassar, porta-voz da Assembleia de Bispos Católicos da Terra Santa (responsável por Israel, Palestina, Chipre e Jordânia), diz que não há registro de um Natal como esse na História do cristianismo. Só talvez durante a Peste Negra, há 600 anos, quando a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, fechou as portas para evitar contágio.

Nem mais recentemente, durante as duas intifadas, as revoltas palestinas contra Israel com atentados terroristas e ações militares que causaram mais de 4 mil mortos, houve uma queda tão dramática na peregrinação religiosa à região.

Em 2002, por exemplo, no auge da Segunda Intifada, Belém recebeu pouquíssimos turistas estrangeiros. Mas, em 2020, esse número caiu a zero desde março, quando as fronteiras de todos os países foram fechadas por causa da pandemia. A tudo isso se somam as restrições de distanciamento social, que inibem também o turismo interno.

Consequências econômicas

Em Israel, foi decretado um novo lockdown, o terceiro desde março, a partir deste domingo, dia 27 de dezembro. Só supermercados e farmácias ficarão abertos - com exceção de escolas para alunos até a 4ª série - e as pessoas só poderão se afastar 1 km de suas casas. E entre os palestinos, há um toque de recolher em vigor entre a população das 7h da noite às 6h da manhã, sem contar sextas e sábados, quando é proibido sair de casa o dia todo.

As consequências econômicas de tudo isso são claras. Em 2019, israelenses e palestinos comemoraram um aumento histórico no turismo depois de anos de conflitos, com 4,5 milhões de visitantes. Em 2020, porém, tudo isso parece estar num passado distante. A região recebeu apenas 1 milhão de visitantes, mas só em janeiro e fevereiro. Desde março, no entanto, as estatísticas registram um turismo a nível zerado.

Entre os palestinos, o local mais afetado é Belém, na Cisjordânia, a cidade onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu. Na cidade, 80% das pessoas trabalham com algo ligado ao turismo religioso. A queda drástica na chegada de turistas e as regras de distanciamento levam a duas principais consequências: desemprego e questões sociais dentro das famílias por causa dos lockdowns.

Além disso, as igrejas e ONGs locais observam uma queda enorme nas doações internacionais, já que o mundo todo passa por dificuldades. Segundo o Ministério do Turismo palestino, as perdas serão de US$ 1,5 bilhão.

Em Israel, as cidades mais afetadas são Jerusalém e Nazaré, que também contam com o turismo religioso - e o turismo em geral - como parte fundamental de sua economia.

O prefeito de Belém, Anton Salman, tentou melhorar o clima de Natal dizendo que ele "renova a esperança nas almas" e que apesar de tudo, "Belém ainda olha com otimismo para o futuro".