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O que sonham os brasileiros na França para 2021?

31/12/2020 13h13

Beijos, abraços, encontros, sinergias... tudo aquilo que antes era natural, agora virou um dos sonhos dos brasileiros para 2021. Se, como dizia Raul Seixas, sonho que se sonha junto é realidade, podemos esperar mais contato humano e afetos compartilhados para o ano que se inicia. A RFI Brasil entrevistou brasileiros que moram na França para saber o que sonham, desejam e projetam para o Ano Novo. 

Mais saúde, fim da Covid-19, vacina e outros itens ligados à pandemia que marcou 2020 estão entre os desejos mais citados - e não poderia ser diferente, depois de vivências dolorosas para muitas pessoas em 2020. 

"Depois deste ano de 2020, triste do ponto de vista pessoal, perdi minha querida mãe e mentora, e mundial, com a Covid, crise econômica e social, quero um 2021 sem drama, mais morno, quentinho, para nos sentirmos em confiança, abrigados. Que a esperança no futuro volte", almeja Claudia Baudry, 45 anos, formadora em línguas e comunicaç?o.

"'Esperançar' é necessário", resume a socióloga Nina Paloma Branco, 34, que mora em Paris e sonha em passar São João com uma fogueira no Brasil, em escrever a sua tese de doutorado e que o projeto de agricultura familiar da farinha de copioba avance no Recôncavo Baiano. "E que a maior parte das pessoas do meu mundo saia bem desta pandemia."

Arte do encontro

"Eu desejo que a arte sobreviva. Que os artistas não desistam de arte e não migrem para outra profissão! Desejo que o mundo em 2021 tenha espaço para a arte como um todo. Que as pessoas sejam livres para pensar, se expressar e ir e vir", são alguns dos desejos da fotógrafa Liza Moura, 43, também baseada em Paris.

Para o artista plástico Roberto Cabot, 57, o maior desejo é poder voltar a estar com as pessoas: "Ver a energia e as simbioses que são as responsáveis pela criação da arte, porque a arte se faz na hora em que as pessoas se encontram, em momentos de uníssono. Meu sonho é voltar o mais rápido possível para isso, estar neste fluxo. Coletivamente, espero que a gente como espécie aprenda desta situação e se toque sobre quais são as reais prioridades". 

Viajar e abraçar o mundo

"Viajar para bem longe - estou planejando Cambodja, Vietnã e Laos - para compensar esse ano de reclusão. Também sair pela rua beijando e abraçando todo mundo, inclusive os desconhecidos, como fizeram quando foi anunciado o fim da II Guerra Mundial", deseja a escritora Marcia Camargos, 65, que mora em Paris.

"Meu desejo para 2021 é união e tolerância. Nós passamos por uma grande fissura social por conta de questões politicas, e a pandemia agravou esse clima. Gostaria que as pessoas fizessem sua parte sem julgar o outro, sem acentuar ainda mais esse abismo, principalmente porque a única solução para vencer a pandemia, é a união. É esforço coletivo", diz Juliana Beaup, 37, assistente de vida escolar num liceu na Grande Paris. 

Saúde e trabalho

Depois deste ano difícil, os brasileiros na França parecem estar menos interessados em retrospectivas dos longos dias em que passaram confinados e isolados e mais abertos às perspectivas que 2021 pode trazer. 

"Estou grávida de 9 meses e desejo que meu bebê nasça bem, pois peguei Covid na gravidez e estou apreensiva. Pode nascer a qualquer momento de janeiro de 2021", diz Flavia Victoria, policial, 37.

"Estar com saúde e conseguir um trabalho" é o sonho de Beatriz Perche 38 anos

"Quero me vacinar, viajar e cozinhar muito em Paris", diz Rebecca Lockwood, 42, chefe de cozinha. 

"Meu maior plano em 2021 é abraçar minha mãe em breve, é pegar no colo minha sobrinha que vai nascer, anunciar aos meus meninos que iremos ao Brasil reencontrar nossa família de lá. E sonho com o poder do amor e da vacina, nessa luta contra a pandemia", deseja Fabiana de Moraes, 47, chefe de projetos na área de artes visuais. 

"Meu maior plano em 2021 é poder viajar para ver minha família no Brasil e poder dar um abraço apertado em cada um sem o medo da Covid. Vem vacina", declara a doutoranda Clarice Groeneveld, 28 anos. 

Otimismo

A micro-empresária Eliana Lassaux, 39, foi uma das que soube tirar proveito de um ano doloroso para muitos, montando o seu próprio negócio. "É verdade que a situação atual, nos pegou desprevenidos. Somos forçados a nos adaptar a esse momento tão difícil. Durante este tempo difícil, construí meu próprio negócio e a meta para os próximos anos, é que este projeto cresça, que eu possa enfim reencontrar minha família no Brasil em toda segurança. Visitar aqueles que se foram sem eu poder dizer um último adeus. Que os projetos futuros sejam prósperos e que a saúde faça parte de todos eles."

Para a professora Pat Enderlé, 43, o mundo precisava de mudanças e ela está otimista com o futuro: 

"Apesar do paradoxo, num ano onde a palavra confinamento se fez ouvir em todas as línguas, 2020, pra mim, foi um ano de movimento, onde coisas até então impossíveis foram modificadas, readaptadas, e realizadas. O mundo precisava de mudanças, e a duras penas passamos por elas todos juntos. O que me faz acreditar que era necessário que passássemos por isso. Saio dele otimista. Otimista com a ciência e a nossa capacidade de nos adaptarmos", diz.

"Para 2021 quero saúde pra receber ou visitar meus pais, para poder visitar minha família, avanço, vacina e rever o sorriso das pessoas, fazer meu trabalho sem máscaras entre eu e meus alunos. Minhas filhas desejam ir ao Brasil, comer pão doce, balançar na rede e comer a farofinha da vovó", completa Pat. 

Para a diretora de projetos Gal Figueiredo, 50, 2020 não foi um ano difícil. "Foi um ano cheio de descobertas, de criatividade, um ano de fazer um retorno a mim mesma, de calma, tranquilidade, de parar o estresse, o movimento e o barulho. Foi um ano diferente, estranho, curioso, ao mesmo tempo revelador", conta ela, que começou o ano com a tristeza pela morte da sua mãe, mas teve também um novo trabalho e o tempo de reencontrar virtualmente amigos. 

"Quero continuar me redescobrindo e me adaptando. Estou de braços abertos para o novo. Desejo mais abertura de espírito e de consciência para todos", diz Gal. 

Fim da pandemia e vacina

"No plano coletivo, eu desejo que a pandemia acabe. Que a vacina funcione, que se descubra um tratamento eficaz para quem pegar a doença apesar da vacina. Desejo menos ignorância, mais bondade e generosidade. De uma forma talvez mais egoísta desejo que os empregos do meu setor, que é o turismo e a hotelaria, consigam ser preservados, assim como os restaurantes, e todo o setor ligado à arte e à cultura", conta Maria de Fátima Bosch, 52. 

"No plano pessoal, estou morrendo de vontade de voltar a viajar e a trabalhar. Ao mesmo tempo, esse período em casa me fez pensar nas minhas prioridades, e quando voltar ao trabalho pretendo equilibrar melhor minha atividade e minha vida pessoal. Eu aproveitei esse tempo para estudar e para fazer um ponto sobre a minha carreira, sei que nesse sentido fui privilegiada", completa Maria de Fátima, que recebe seguro-desemprego, pois o hotel onde trabalha está fechado. 

Além disso, ela completa, "desejo que essa pandemia não sirva de pretexto para uma onda de autoritarismo e de arbitrariedades planeta afora. E o fim do governo Bolsonaro e de todos os governos de extrema direita". 

Bem-estar

A diretora de operações Alice Mallet, 38, quer melhorar seu planejamento financeiro, praticar mais esportes e comer de forma mais equilibrada. "Praticar a gratidão diária, a parcimônia, a solidariedade. Ser mais positiva, ler ao menos um livro por mês, praticar o minimalismo, tentar eliminar parte do consumo e reduzir resíduos poluentes", diz ela, que também planeja participar de algum programa solidário na França. 

O economista e analista financeiro Carlos Henrique de Assumpção Junior, 36, pretende aumentar o patrimônio familiar em 60%, aumentar as doações em 100%, seguir uma dieta em ao menos 30% das refeições do ano.

Além disso ele planeja "aumentar em 30% intensidade dos exercícios físicos mantendo mesmo tempo atual, fazer exercícios físicos em 80% dos dias, correr a meia maratona, meditar ao menos 80% dos dias, ler 50 livros, estudar alemão e manter frequência semanal de posts no blog e podcasts durante o ano".

Leituras compartilhadas

O desejo de Leonardo Tonus, 53, professor de Literatura Brasileira na Sorbonne, em Paris, é recuperar a convivência com as pessoas, sobretudo em sala de aula. Organizador do evento Primavera Literária Brasileira, que, assim como tantos outros foi anulado este ano, Tonus faz uma reflexão sobre o ano que passou. 

"É necessário pensar o que foi e o que nos ensinou este ano de 2020. A principal lição deste ano talvez seja o fato de termos tomado consciência de que somos sujeitos que vivem em coletividade e que necessitamos dela. Com a pandemia, nós passamos a viver um verdadeiro 'in-sílio', um exílio para dentro de nós mesmos, que nos desconectou desta coletividade", analisa o professor.  

"Para 2021, eu planejo sobretudo retomar, recuperar e viver novamente esta coletividade, sobretudo para mim, enquanto professor, pesquisador, promotor da literatura brasileira. Eu desejo três coisas: este reencontro com o outro, voltar ao meu espaço da sala de aula - não há transmissão de conhecimento sem este contato pessoal, e aqui me inscrevo numa perspectiva de Paulo Freire, em que quem ensina é aquele que aprende com o seu aprendiz. E planejo também eventos da área literária que possam reunir pessoas, em leituras compartilhadas", diz Tonus, criador, durante o primeiro lockdown, do evento online Sacadas Literárias. 

"Que através da leitura nós possamos reencantar o mundo", almeja Tonus.