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"Chuva de decretos" após posse de Biden sinaliza ventos de mudança nos EUA

18/01/2021 14h07

Os Estados Unidos se preparam para a posse de Joe Biden na quarta-feira (20). A segurança está cada vez mais reforçada em Washington, mesmo se a cerimônia terá um público bastante reduzido e não deve contar com a presença do atual presidente, Donald Trump. Depois de muita resistência, o chefe da Casa Branca ja enviou os convites para o seu "bota-fora", que deve acontecer na Flórida. Joe Biden pretende implementar mudanças rapidamente, com uma "chuva de decretos" logo após a posse. 

O processo do impeachment de Donald Trump só vai realmente começar depois da posse do democrata Joe Biden. Mas, para evitar que os trâmites atrapalhem as suas primeiras semanas de governo, o presidente eleito vai começar o mandato com decretos que dispensem a apreciação do Congresso.

Os decretos mais simbólicos, no plano internacional, são a volta dos Estados Unidos para o Acordo de Paris sobre o Clima e o fim da proibição de entrada de cidadãos de diversos países muçulmanos em solo norte-americano.

Esta segunda-feira (18) é feriado nacional dos Estados Unidos, em homenagem ao líder negro Martin Luther King. Para muitos norte-americanos, a data, a dois dias da posse de Biden, simboliza uma esperança de que a saída de Trump do poder possa representar o início da pacificação do país, que permanece extremamente dividido politicamente. O filho dele, Martin Luther King terceiro, declarou que se o pai estivesse vivo, estaria "extremamente decepcionado" com as desigualdades que persistem hoje

Partido Democrata: futuro e expectativas da ala progressista

O novo presidente prometeu querer curar os Estados Unidos de suas divisões internas. Mas Biden também terá muito o que fazer para manter a unidade de sua própria família política. Dentro do Partido Democrata, a esquerda vem ganhando cada vez mais influência. Da mesma forma, o eleitorado afro-americano também tem grandes expectativas.

Os progressistas estão atraindo cada vez mais eleitores, especialmente jovens, e agora querem que suas ideias sejam adotadas pelo democrata Joe Biden, e seu novo governo."Já vi progressistas fazerem um trabalho de campo incrível para colocar Joe Biden na Casa Branca", disse Jamie Gauthier, eleito para o conselho municipal da Filadélfia, cidade à qual Joe Biden deve sua vitória decisiva, no estado da Pensilvânia. 

"Isso implica que o futuro presidente terá que retribuir o favor. Já o puxamos para a esquerda em vários pontos de seu programa. E vamos continuar ", continua.

Um desses pontos é o combate às mudanças climáticas. "Em geral, o governo Biden leva as mudanças climáticas mais a sério do que qualquer governo anterior nos Estados Unidos. Durante a campanha, a esquerda conseguiu até convencer Biden a assumir posições mais fortes sobre o clima. E isso é bom", diz Nikil Saval.

Este socialista, recém-eleito para o Senado da Pensilvânia sob a bandeira do Partido Democrata, gostaria que o mesmo fosse verdade para questões de reforma policial, moradia ou mesmo do seguro saúde.

"Acredito que os objetivos pelos quais lutamos são populares. E queremos que nossas prioridades, que são as prioridades da maioria dos norte-americanos, se tornem as prioridades do Partido Democrata, que deve ser um verdadeiro partido de esquerda", continua.

Aos 29, Leyla apoiou a candidatura de Bernie Sanders antes de votar em Joe Biden para a eleição presidencial. "Se os democratas querem continuar a ter vozes de eleitores jovens, eles serão forçados a trabalhar com os progressistas", acredita.

O eleitorado afro-americano tem grandes expectativas

Após o movimento Black Lives Matter e suas manifestações nos Estados Unidos contra o racismo sistêmico e a violência policial, e também a massiva mobilização de afro-americanos para oferecer a vitória a Joe Biden, a comunidade negra também está esperando pelo novo presidente na virada.

"No momento, precisamos de uma reforma policial. Deixe-me dar um exemplo: o sistema de 'busca e apreensão'. Quando um policial suspeita que você tem drogas ou qualquer outra coisa, ele pode prendê-lo imediatamente na rua", disse Abdul-Aliy Muhammad, ativista dos direitos civis.

"Os negros são muito mais afetados por este método do que outros cidadãos. E quando isso acontece, você corre um risco maior de ser baleado e também preso. Portanto, precisamos de uma lei federal. E se não estiver nos planos de Biden e Harris, não acontecerá", conclui Muhammad.

Com informações de Lúcia Muzell, enviada especial da RFI a Cleveland, e de Stefanie Schüler e Bertrand Haeckler, enviados especiais da RFI à Filadélfia.