Topo

Empresa japonesa produtora de fibra de cânhamo é condenada por escravidão no Equador

23/04/2021 12h31

Em uma das fazendas da empresa Furukawa Plantaciones, que tem capital japonês, no Equador, os agricultores trabalhavam em condições próximas a de servos do modelo feudal, na Idade Média. A companhia foi condenada por escravidão. Considerada ecológica, a fibra de cânhamo pode substituir no futuro o algodão na idústria têxtil.

Éric Samson, correspondente da RFI no Equador

As famílias dos 123 autores da denúncia viviam em barracas insalubres que a empresa destruiu assim que o escândalo veio a público, não tinham acesso à saúde pública e previdência social, nem acesso à água potável, e as crianças não frequentavam escolas.

Muitos foram mutilados trabalhando sem proteção com máquinas agrícolas. Os trabalhadores foram adquiridos juntamente com as terras. Uma das vítimas, um homem idoso, não tinham registro civil e existência legal.

Para Alejandra Yépez, do grupo "Furukawa Nunca más", a decisão da Justiça equatoriana é histórica. "É o primeiro veredito no Equador que reconhece a existência da escravidão moderna no país", destaca.

"Até hoje, ninguém aceitava a existência de servos condenados a viver em uma fazenda sem poder sair. Nas terras de Furukawa, os trabalhadores agrícolas não estavam acorrentados, mas viviam e trabalhavam em condições indígnas. Todos seus direitos foram violados, de maneira repetidas, durante três gerações."

Indenização e cessão de terras

A companhia Furukawa Plantaciones CA foi condenada, entre outras penas, a uma indenização econômica cujo montante ainda não foi calculado. Ela deve dar cinco hectares de terras agrícolas a cada um dos autores da denúncia e se desculpar publicamente nos principais jornais do país.

Segundo a associação Furukawa Nunca más, os demandantes representam menos que 10% dos escravos modernos explorados nos campos de cânhamo de uma das 32 fazendas do grupo.

O Equador é um dos principais produtores da fibra de cânhamo de manilha ou abaca no mundo. Utilizada para fabricar papéis especiais, ela é considerada como a matéria do futuro para a indústria têxtil e pode substituir o algodão. Além de ser mais resistente, sua produção requer menos água e menos uso de pesticidas, por isso é considerada também ecológica.