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Correspondências trazem à tona relação tumultuada de autor de "O Pequeno Príncipe" com sua mulher

14/05/2021 16h58

A vida do escritor, aviador e ilustrador francês Antoine de Saint-Exupéry, mundialmente conhecido por sua obra "O Pequeno Príncipe", é recheada de aventuras, que não terminam com a queda de seu avião no mar, em 1944. Depois de um acordo que encerra uma batalha entre herdeiros, acaba de ser lançado um livro com correspondências entre o escritor e sua mulher, Consuelo, datadas entre 1930 e 1944.

Além de cartas e telegramas, "Correspondance" traz fotografias, esboços do aviador e desenhos também de Consuelo, que era artista plástica. São missivas carregadas de paixão e drama, com frases do escritor como "Consuelo, querida, você não entende o quanto me faz sofrer", ou dela: "Choro de emoção, tenho tanto medo de ser exilada de seu coração...". Eles não tiveram filhos e esse material durante muito tempo foi motivo de disputa legal entre a família Saint-Exupéry de um lado, e os herdeiros de Consuelo, do outro.

Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lyon, em 1900, em uma família aristocrata. Desde pequeno sonhava em ser piloto. Depois do serviço militar na aviação, tornou-se piloto de linha, passando, inclusive, pelo Brasil. A vida de aviador foi o fio condutor de sua obra literária, iniciada com "O Aviador", de 1926. Saint-Exupéry já era um escritor consagrado quando "O Pequeno Príncipe" foi publicado em 1943, primeiro em inglês. Nesse ano, o escritor se engajou na força aérea durante a Segunda Guerra Mundial e seu avião desapareceu no Mediterrâneo. Seu corpo nunca foi encontrado. Em 2004, destroços do avião foram recuperados a poucos quilômetros da costa de Marselha, no sul da França.

Aviação inspira obras

O sucesso global de "O Pequeno Príncipe" - que se tornou em 2017 a obra mais traduzida do mundo após a bíblia - teria ofuscado o conjunto da obra de Saint-Exupéry, de acordo com Mônica Cristina Corrêa, doutora em Literatura Francesa pela USP e tradutora. Mas ela vê "um renascimento com novas publicações e traduções atualizadas" de toda a sua obra. "Eu o considero muito importante, não só para a literatura francesa, mas mundial, pois ele incorporou o advento da aviação nas letras, com uma forma poética e filosófica de ver o mundo", acrescenta.

Em 1930, baseado em Buenos Aires como responsável da Aeroposta Argentina, ele conhece a salvadorenha Consuelo Suncín, uma jovem viúva de um escritor. Depois de algumas semanas de vida em comum na Argentina, eles decidem se casar na França. As correspondências do casal mostram uma relação ardente, mas cheia de obstáculos, principalmente as longas separações por causa das viagens de Saint-Exupéry.

"Era uma relação tensa, cheia de conflitos, de vai e vens, de separações", conta Mônica Cristina Corrêa. "Agora o litígio foi resolvido e os herdeiros das duas partes decidiram cooperar para juntar as memorias em prol do autor e também para restabelecer a posição de Consuelo, que muitas vezes foi tida como uma maluca, que o atormentou".

Durante os anos como piloto postal, Saint-Exupéry também passou diversas vezes pelo Brasil. A Associação e Memória da Aéropostale no Brasil (Amab) tem um extenso trabalho de pesquisa sobre as viagens de Saint-Exupéry no país, isso em conjunto com a Fondation Latécoère e o legado da Succession Antoine de Saint-Exupéry. A Amab é presidida por Mônica Cristina Corrêa, que também é tradutora e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.