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Extrema direita e negacionistas da pandemia são desafio a Merkel a meses das eleições gerais alemãs

04/06/2021 05h45

Os conservadores aliados de Angela Merkel têm uma prova de fogo neste fim de semana num difícil duelo com a extrema direita. A eleição regional no leste da Alemanha neste domingo (06) é o último teste nas urnas antes do pleito que decidirá a sucessão da chanceler alemã, daqui a quase quatro meses. Críticos das medidas restritivas contra o coronavírus, os populistas de direita da AfD lideram as pesquisas, em empate técnico com o partido da chefe de governo alemã.

Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

A Saxônia-Anhalt é o mais pobre dos cinco estados que formavam a Alemanha Oriental e é um dos mais afetados pelo êxodo de seus habitantes desde a reunificação - gente que saiu do empobrecido leste do país para procurar emprego.

Mesmo 30 anos depois da reunificação, a parte leste da Alemanha continua votando diferente do resto do país. É a região em que o voto de protesto tem mais eco, sendo por isso um terreno fértil para os populistas da Alternativa pela Alemanha (AfD), que construiu seu sucesso alimentando temores sobre a entrada de migrantes no país em 2015 e regularmente acusa Berlim de ter negligenciado as regiões da antiga Alemanha comunista.

Negacionismo

É nesse contexto que o negacionismo da pandemia entra como um fator de atração de eleitores. A AfD conseguiu cerca de 24% dos votos nas eleições anteriores no estado, com discurso baseado no medo de imigrantes.

Como a imigração passou a tema secundário nos últimos tempos, os extremistas fazem das críticas às restrições da pandemia uma estratégia para se manterem no mesmo patamar de votos. E isso tem dado certo no estado.

Pesquisas

As sondagens de intenção de voto no estado de Saxônia-Anhalt preveem uma disputa acirrada. A maioria das pesquisas das últimas semanas dá à União Democrata Cristã (CDU) uma liderança apertada, mas praticamente empatada com a AfD.

Uma enquete revelada nesta quinta-feira pelo semanário Der Spiegel dá 29% das preferências aos conservadores e 28% à extrema direita. Já uma outra divulgada pela emissora pública ZDF no mesmo dia antecipa uma vantagem de sete pontos percentuais aos democratas-cristãos, que teriam 30% contra 23% para a AfD.

Mas é importante ressaltar que mesmo se vencer, a AfD não deve governar o estado, porque dependeria de uma aliança. Nenhum partido quer uma coalizão com os extremistas, críticos das medidas sanitárias contra o coronavírus e que defendem uma política anti-imigrantes.

Efeito nacional

A votação no estado de Saxônia-Anhalt acontece numa época em que os conservadores de Angela Merkel têm a nível nacional uma vantagem apertada sobre os verdes nas sondagens para as eleições que decidirão quem vai suceder a chanceler. 

Um bom resultado daria um impulso necessário para uma vitória nas urnas na eleição geral em setembro.

Já uma derrota para os extremistas de direita num estado governado desde 2002 pelos partidários de Merkel seria um duro revés para Armin Laschet, o impopular presidente da CDU e candidato à sucessão da chefe de governo. O resultado poderia reavivar os debates sobre legitimidade dele como candidato de centro-direita e enfraquecer a situação dos conservadores.

Crise de confiança

O maior partido alemão vive uma crise de confiança entre o eleitorado, afetado pelos descontentamento com a gestão governamental da pandemia, e um escândalo envolvendo contratos de compra de máscaras contra o coronavírus.

Os democratas-cristãos de Merkel já sofreram dois grandes reveses em março, em duas eleições regionais. Além disso, o partido também saiu arranhado da disputa em abril passado pela nomeação como candidato a chanceler entre Laschet e o líder do partido-irmão bávaro da CSU, a União Social Cristã (CSU), Markus Söder, que tem maior popularidade segundo as pesquisas.