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Afeganistão: Atentado em Cabul aumenta o temor de um retorno dos talibãs ao poder

04/08/2021 16h05

Os talibãs reivindicaram nesta quarta-feira (4) o atentado visando o ministro afegão da Defesa em Cabul, na véspera, no qual morreram oito pessoas. O grupo extremista, que já controla parte do Afeganistão, ameaça novos ataques contra políticos em sua ofensiva para tomar grandes cidades do país.

Com informações de Sonia Ghezali, correspondente da RFI em Cabul

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"Durante a noite (terça-feira), foi executado um atentado suicida contra a residência do ministro da Defesa (...) por um grupo de mujahedines equipados com armas leves e pesadas", afirmou o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, em um comunicado. O ataque "é o início das represálias contra (...) os funcionários do governo de Cabul que ordenam ataques e bombardeios em todo país contra civis", para dificultar o avanço dos insurgentes nos centros urbanos, completou.

As duas grandes deflagrações foram registradas em Cabul com duas horas de intervalo. A primeira foi provocada por um carro-bomba que explodiu diante da casa de um deputado, vizinho do ministro da Defesa, general Bismillah Mohammadi, que está são e salvo. Vários criminosos conseguiram entrar na residência do deputado.

As forças de segurança demoraram cinco horas para acabar com a resistência dos invasores, que foram mortos. Durante esse tempo, muitos residentes da capital, atendendo a um apelo lançado nas redes sociais, subiram aos telhados ou desceram às ruas para apoiar as forças afegãs, gritando "Allah Akbar" (Deus é o maior).

Este é o primeiro ataque de grande magnitude em Cabul, em vários meses, reivindicado pelos talibãs. Além de oito civis mortos, 20 pessoas ficaram feridas, segundo um balanço atualizado nesta quarta-feira pelo Ministério do Interior.

"Não sabemos como isso pode acontecer aqui, pois essa zona é muito protegida. Ninguém pode andar armado aqui. Nem mesmo com uma faca", comenta um morador em entrevista à RFI. "Como uma explosão dessas pode acontecer aqui?", se questiona.

O ataque em Cabul faz parte da ofensiva que os talibãs lançaram há semanas, tomando grandes cidades em zonas estratégicas do país. Segundo Jean-Charles Jauffret, professor universitário especialista no Afeganistão e autor do livro "La guerre inachevée" (A guerra que não acabou, em tradução livre), essa estratégia, que visa cercar as cidades para controla-las, umas após as outras, "é a mesma que foi a adotada durante a guerra civil, em 1992 e em 1996, quando os talibãs tomaram o poder".

Ataques visam cidades simbólicas

Nessa ótica, além da capital, outra cidade simbólica é Lashkar Gah, capital da província de Helmand, que os talibãs tentam controlar nesse momento. "Foi lá que, em 1881, os ingleses, que ocupavam o país, foram derrotados e, sem seguida, tiveram que deixar o Afeganistão pela segunda vez", lembra Jauffret.

O porta-voz do ministério afegão da Defesa, Fawad Aman, informou que o Exército lançou nesta quarta-feira um contra-ataque justamente em Lashkar Gah. "A operação está sendo realizada lentamente e com cautela, já que os talibãs usam as casas como refúgio e os civis como escudo", anunciou Aman no Twitter.

O general Sami Sadat, o soldado de maior patente do Exército no sul do país, pediu desde terça-feira que os moradores deixassem Lashkar Gah. Nesta quarta, muitos começaram a fugir da cidade, seguindo as recomendações das autoridades locais. 

Os talibãs, um grupo islâmico ultraconservador, controla grande parte do interior e das cidades fronteiriças, por onde entraram para preencher o vazio deixado pela retirada das tropas americanas, que, à princípio, terminará em 31 de agosto. Muitos afegãos vivem com medo de um retorno ao poder dos extremistas.

O grupo governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, impondo um regime islâmico de extremo rigor, até ser derrubado por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

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