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Homem que comparou Macron com Hitler é condenado a multa de R$ 60 mil

17/09/2021 14h43

A Justiça francesa condenou nesta sexta-feira (17) um ex-publicitário a pagar uma multa de € 10.000 (mais de R$ 60 mil) por ter comparado o presidente Emmanuel Macron com o líder nazista Adolf Hitler em outdoors publicitários. 

Michel-Ange Flori, de 62 anos, foi condenado por "injúria pública" contra o presidente francês, que denunciou a publicação de dois outdoors com sua imagem modificada, expostos nas cidades de La Seyne-sur-Mer (sudeste) e na vizinha Toulon. Apesar do acusado ter defendido seu "direito ao humor", o tribunal atendeu ao pedido do procurador Laurent Robert, que denunciou "evidente vontade de produzir dano". O ex-publicitário apelará da decisão. 

O primeiro outdoor foi publicado em 19 de julho, dias antes do anúncio do lançamento por parte do governo francês do passaporte sanitário, dispositivo que atesta que seu portador foi vacinado contra a Covid-19 ou que foi testado negativo recentemente. A imagem mostra Macron retratado como Hitler, com um pequeno bigode e um uniforme nazista, junto com o slogan: "Obedeça, vacine-se". 

Um mês depois e apesar de já ter sido aberta uma investigação sobre a primeira imagem, Michel-Angel Flori publicou a segunda imagem. Nele, o presidente aparece ao lado do marechal Pétain, ex-chefe de Estado francês conhecido por colaborar com os nazistas. No fundo, era possível ver um código QR, em alusão ao sistema de controle do passe sanitário, que é escaneado para autorizar a entrada de seu portador em restaurantes, cinemas, teatros e centros comerciais, além do acesso a viagens de trem, avião e ônibus para trajetos longos. 

Direito à caricatura

"O direito à caricatura foi atacado", disse o advogado de Flori, Bérenger Tourné, para quem "o presidente, sempre disposto a defender a liberdade de expressão (...), considera que ela para em sua pessoa augusta". Embora o crime de "ofensa ao presidente da República" tenha sido abolido em 2013, após uma decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEHD), o chefe de Estado está protegido contra injúrias e difamação pública como qualquer cidadão. 

No tribunal, o advogado de defesa disse que Flori era "talvez irreverente, grosseiro e demagogo", mas que não era culpado, já que abordava "um debate polêmico e político". 

"Alguns escrevem nas paredes, eu faço cartazes", afirmou o ex-publicitário, para quem essa forma de expressão é "a mais antiga do mundo". Flori afirma que as imagens foram uma forma de "denunciar os ataques às liberdades de um regime com acentos autoritários". 

O passaporte sanitário é contestado por parte da população, que acusa o governo francês e ferir as liberdades individuais. A obrigatoriedade do dispositivo já foi alvo de vários protestos nas ruas da França mas também em outros países, onde medidas similares foram implementadas. 

Diante do tribunal, cerca de 20 pessoas manifestaram em defesa do ex-publicitários carregando cartazes com os dizeres "Je suis Flori" (Eu sou Flori), uma alusão à frase "Eu sou Charlie", usada em apoio ao jornal satírico Charlie Hebdo, alvo de um atentado em 2015 após a publicação de caricaturas do profeta Maomé. 

Esse não é o primeiro processo de ex-publicitário, que já foi condenado por roubo e por violência visando autoridades públicas. 

(Com informações da AFP)