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Último comício: Merkel diz que "não precisa ser cristão" para votar no candidato conservador

25/09/2021 11h13

Angela Merkel fez um vibrante apelo neste sábado (25) para que os alemães votem em seu candidato, o conservador Armin Laschet, em nome do "futuro" da Alemanha. Na véspera das eleições legislativas de prognóstico indefinido, que encerrarão 16 anos de governo da chanceler, Merkel participou do ato de encerramento da campanha do cristão-democrata em Aachen, chamada em francês de Aix-en-Chapelle. As pesquisas apontam vitória do rival social-democrata, Olaf Scholz.  

"É apenas a cada quatro anos que vocês têm a chance de decidir em nível federal quem deve moldar o futuro em Berlim", disse Merkel, ao lado do impopular e desajeitado Armin Laschet. O ex-jornalista de 60 anos "aprendeu política do zero e dirige este estado da Renânia do Norte-Vestfália como um próspero estado federal", elogiou a chefe do governo alemão, que corre o risco de ter que lidar com os assuntos correntes nos próximos meses, durante as negociações para a formação de uma nova coalizão.

"É preciso tomar as decisões certas (...) porque é seu país e vocês decidem o futuro governo" que deverá garantir "prosperidade, segurança e paz", ressaltou a dirigente de 67 anos.

Desde a reviravolta que sofreu nas pesquisas, Laschet partiu para o ataque, ante o risco de uma guinada à esquerda com o moderado Scholz, ministro das Finanças de Merkel desde 2018. O social-democrata lidera a disputa, em média com três pontos de vantagem sobre o candidato conservador da CDU/CHU.

Para seu último comício enquanto chanceler, Merkel, que não preparou sua sucessão, não poupou elogios a seu protegido. "O mundo está mudando muito rapidamente e, portanto, Armin Laschet ainda tem muito trabalho a fazer como chanceler federal", disse ela. 

"O 'C' [da CDU] não significa que você tem que ser cristão para votar na CDU, mas que é uma visão de humanidade que não desconfia das pessoas, que confia nas pessoas e que sempre respeita as pessoas e suas diferenças", explicou a chanceler.

"Armin Laschet mostrou ao longo da sua vida política que pode conseguir isso, não só na teoria, mas com paixão e empenho", disse ela, descrevendo um líder capaz de "construir pontes entre as pessoas" e aceitar suas "diferenças".

Enquanto a centro-direita sempre obteve mais de 30% dos votos nas eleições nacionais e forneceu ao país cinco dos oito chanceleres do pós-guerra, os conservadores correm o risco, desta vez, de obter seu pior resultado eleitoral. Nas últimas pesquisas, os sociais-democratas aparecem liderando com cerca de 25% das intenções de voto, contra 21 a 23% dos votos para a CDU/CSU. Mas a diferença diminuiu nesta reta final e Merkel apelou na sexta-feira aos eleitores indecisos.

O vice-chanceler Olaf Scholz, de 63 anos, encerrará sua campanha na tarde de sábado em Potsdam, perto de Berlim. Sua postura, que beira o tédio segundo seus detratores, e sua experiência como grande financista tranquilizam os eleitores alemães, que parecem, de fato, buscar o melhor herdeiro para uma chanceler que ainda goza de grande popularidade.

Essa preocupação leva cada um dos candidatos a reivindicar sua proximidade com Merkel e é um bom presságio para a continuação de um governo centrista e pró-europeu. Scholz, no entanto, afirmou na sexta-feira que é a cara da "renovação da Alemanha", insistindo que o país "precisa de uma mudança". Essa transformação é reivindicada por dezenas de milhares de jovens que protestaram por toda a Alemanha na sexta-feira para exigir ações mais incisivas em favor do clima. 

Apesar da importância das questões climáticas, e do trauma do país atingido por enchentes mortais em julho, a causa ambiental não avançou tanto quanto os Verdes esperavam. A candidata dos Verdes, Annalena Baerbock, obteria 15% dos votos, ficando em terceiro lugar, à frente do liberal FDP, com 11%.  

Os Verdes devem, no entanto, desempenhar um papel importante na futura coalizão, cuja formação promete ser ainda complexa: exigirá três partidos para suceder à atual "GroKo" (grande coligação) formada pela União CDU/CSU e SPD. No leque de coalizões possíveis, uma maioria dominada pela esquerda e pelos verdes, ou associando liberais e centro-direita, influenciaria as escolhas de política orçamentária, fiscal e climática do país, e suas orientações diplomáticas.