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Alemanha: como fica a escolha do chanceler após o resultado apertado das eleições?

27/09/2021 06h20

Os social-democratas venceram por uma margem estreita a eleição parlamentar de domingo (26) na Alemanha. A votação mais disputada nos últimos anos no país levou, no entanto, a um impasse. Tanto o candidato vencedor quanto o segundo colocado afirmam ter condições de formar uma coalizão de governo. As negociações para eleger o novo chanceler no Parlamento (Bundestag) podem durar semanas e até meses.

Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

De acordo o resultado oficial preliminar, o Partido Social-Democrata (SPD) de Olaf Scholz ganhou a disputa com 25,7% dos votos, contra 24,1% para o bloco conservador formado pela União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel e do seu candidato, Armin Laschet, com o partido irmão bávaro União Social Cristã (CSU). Esse foi o pior resultado numa eleição federal da história dos conservadores alemães.

Em terceiro lugar, ficaram os verdes, com 14,8%. O Partido Liberal (FDP) vem em quarto, com 11,5%. Em seguida, estão os ultradireitistas do Alternativa para a Alemanha (AfD), com 10,3%. Os socialistas de A Esquerda (Die Link) obtiveram 4,9%.

Xadrez político

Encerrado o pleito, começa agora o xadrez político pelo poder, que promete ser um dos mais difíceis. Todas as atenções se voltam para esses dois partidos que terminaram na terceira e quarta posições. Eles se tornaram o fiel da balança na formação de um futuro governo na Alemanha. Tanto o social-democrata Olaf Scholz quanto o conservador Armin Laschet terão que se entender com essas duas forças se quiserem conquistar o cargo de chanceler.

Mesmo tendo chegado em segundo lugar, amargando o pior resultado que seu partido já teve, o candidato de Merkel não se dá por vencido. Armin Laschet deixou claro na noite de domingo que deseja ser chanceler, apesar da erosão de votos de seu partido, que caiu quase 9% em relação à última eleição.

Na Alemanha, tradicionalmente, o partido com mais votos é que tem prioridade para negociar uma coalizão de governo. Mas nada impede que o segundo colocado também tente fazer alianças para assumir o comando do país. Desta vez, a relativa pulverização dos votos torna isso possível e faz também com que seja necessária uma união entre três partidos para a formação de um governo. Só não se sabe ainda qual das duas maiores legendas conseguirá atrair as outras duas siglas menores.

Os liberais já disseram que preferem cooperar com os conservadores. Já os verdes deixaram sua escolha em aberto, embora historicamente os ambientalistas tenham mais pontos em comum com os social-democratas.

Indesejada grande coalizão é possível

Numericamente, entretanto, é possível uma continuidade da aliança entre os dois principais partidos alemães, que formam o atual governo. Conservadores e social-democratas teriam o controle de mais de 50% do Parlamento. Porém, ambos já descartaram essa hipótese.

A chamada "grande coalizão" entre os dois maiores partidos alemães, dois grandes rivais, é sempre considerada uma última alternativa. Mas isto não quer dizer que no final eles não acabem tendo que se entender entre si, caso não consigam chegar a um acordo para formar um trio com as outras duas siglas menores. É o que já aconteceu, por exemplo, na última eleição parlamentar, há quatro anos. Na época, os social-democratas haviam descartado se unirem aos conservadores, mas tiveram que voltar atrás depois do fracasso das negociações dos partidários de Merkel com verdes e liberais.

Conversas prolongadas

Naquela época, essas dificuldades em se fechar uma coalizão fizeram com que Angela Merkel só tomasse posse para um novo mandato meses depois, em março do ano seguinte. Tudo leva a crer que, também agora, as sondagens e negociações vão durar bastante tempo, talvez meses.

Enquanto a nova coalizão de governo não sai, Merkel continua governando a Alemanha. Já o novo Parlamento toma posse o mais tardar daqui a um mês.

Os alemães se preparam para longas semanas de conversas, sondagens e negociações entre os partidos. O suspense está longe de acabar no cenário político da maior economia europeia e muitas reviravoltas ainda podem acontecer.