Compromisso sobre a regulamentação do mercado global de carbono é desafio na COP26
A imprensa francesa analisa nesta segunda-feira (8) os desafios da segunda e última semana de negociações na Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP26), em Glasgow. Um dos temas decisivos e controversos é a regulamentação do mercado global de carbono, mecanismo que permite a venda de créditos por países que conseguem garantir suas reduções de emissões de gases de efeito estufa para nações com maiores dificuldades de cumprir as metas de corte.
O diário econômico Les Echos ressalta que o tema é polêmico, apontado por algumas ONGs e ativistas como "greenwashing" - estratégia enganosa para maquiar os danos ao meio ambiente -, enquanto outros consideram a questão essencial para alcançar o objetivo da neutralidade de carbono necessária para limitar o aquecimento da Terra. Sua regulamentação é um dos desafios do Artigo 6º do Acordo de Paris.
A precificação do mercado de carbono tem potencial de direcionar a demanda dos consumidores e investidores para produtos que emitem menos gases de efeito estufa e estimular investimentos em projetos e tecnologias mais limpas, indica o jornal francês.
Este mercado de compensação de carbono está em pleno boom há cerca de dois anos e pode representar US$ 300 bilhões em 2030, ou mesmo US$ 1 trilhão nas próximas décadas. Um crédito corresponde a uma tonelada de CO2 eliminada ou evitada graças a um projeto de redução das emissões de gases de efeito estufa.
Como funciona o mercado de carbono?
Empresas e Estados compram créditos que são usados para financiar projetos de energia renovável ou de reflorestamento, por exemplo. O problema é que esse mercado não é unificado, além de contar com uma série de intermediários e padrões distintos, o que dificulta o estabelecimento de um valor para o crédito. A inexistência de mecanismos de controle e de monitoramento faz com que o mercado de carbono, criado no Protocolo de Kyoto, em 1997, mantenha em circulação créditos ultrapassados.
Embora uma tonelada de carbono tenha o valor de € 60 no mercado europeu de cotas de carbono, alguns créditos são negociados por apenas € 3. Uma aberração, diz o jornal Les Echos. O assunto é extremamente técnico e, em seis anos, os países signatários do Acordo de Paris nunca chegaram a um consenso.
Les Echos recorda que o Brasil, grande gerador de créditos de carbono, bloqueou as negociações na COP25 em Madri ao se recusar a abandonar a dupla contagem. Fala-se em dupla contagem, explica o diário francês, quando a Índia, por exemplo, gera um crédito de carbono que depois vende para a Coreia do Sul, mas os dois países o deduzem de suas emissões de CO2.
Nos últimos dias, o Brasil indicou que estava disposto a chegar a um compromisso, escreve o jornal francês especializado em economia. Mas os países mais pobres também gostariam de introduzir um imposto sobre esses créditos para financiar a adaptação às mudanças climáticas, proposta que foi recusada pelos Estados Unidos e pela União Europeia. As negociações estão, portanto, longe de terminar, conclui a reportagem.
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